Artigo Acesso aberto

“QUE COUSA SÃO OS INDIOS” NO TRATADO DA PROVÍNCIA DO BRASIL, DE GANDAVO, E NO NOTICIÁRIO MARANHENSE, DE JOÃO DE SOUZA FERREIRA

2022; Volume: 7; Issue: 1 Linguagem: Português

10.55906/rcdhv7n1-016

ISSN

2526-3943

Autores

Carla da Penha Bernardo,

Tópico(s)

History of Colonial Brazil

Resumo

Nosso trabalho trata da escravidão dos indígenas e dos africanos a partir da leitura de alguns textos acerca do Brasil, dentre os quais o Noticiário maranhense, descrição do Estado do Maranhão, suas contendas e peregrinas circunstâncias, de 1685, de João de Souza Ferreira, por nós editado em nossa dissertação de Mestrado, e o Tratado da província do Brasil, de Pero Magalhães de Gândavo, autor da primeira História do Brasil. A escravidão, no país, atingiu dois grandes grupos que sofreram um mesmo problema e que interagiram desde os primeiros tempos: o dos brasilianos nativos e o dos africanos para cá trazidos. O índio, como o negro, era um ser reificado pelos europeus, como demonstra, em cada passo, o texto de Gândavo, e como afirma Souza Ferreira no segundo capítulo de seu livro, intitulado “Que cousa são os indios”. Mais conhecida é a obra do primeiro autor, que viveu no Brasil por alguns anos, inclusive em terras da Bahia. Seu texto é um apelo ao colonialismo português de fixação e não apenas de exploração, como vinha sendo feito. Mostra, como de praxe à época, um discurso laudatório e uma visão eldorada das coisas da terra, mesmo quando elas, de fato, vão de encontro ao retrato pintado por Gândavo. Pouco ou nada conhecida é a obra de Ferreira, que apresenta diferentes versões. Ferreira possui ainda outra produção, intitulada América abreviada, tratando, como a anteriormente referida, da colonização e de seus problemas no antigo estado do Maranhão e Grão-Pará e demonstrando bastante conhecimento de causa, visto que o padre vivia há muitos anos na localidade. Os textos de Ferreira e Gândavo indicam a maneira pela qual o processo de colonização se deu entre nós, de modo a afirmar as questões identitárias dos colonizadores, estendo-as ao domínio do Outro e negando, assim, a alteridade, práxis então naturalizada. Na ausência de textos produzidos pelos antigos habitantes brasílicos e pelos africanos para cá trazidos como escravos, tais escritos documentais mostram não só a visão quinto-imperialista do português, mas também entremostram, aqui e ali, a visão dos grupos subjugados, sobretudo em momentos de censura do colonizador a sua atitude. Os textos historiográficos, em seu todo ou em suas frestas, ajudam a compor um perfil do Brasil antigo e a compreender muitos dos problemas contemporâneos enfrentados por descendentes de indígenas e negros, além de desvendarem a raiz de muitos dos preconceitos atribuídos aos brasileiros, em geral, e a sua cultura, nos dias atuais. Por questões históricas e filológicas, mantivemos a ortografia das antigas crônicas.

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