Artigo Acesso aberto Produção Nacional Revisado por pares

ANEMIA HEMOLÍTICA AUTOIMUNE PRECEDENDO ENDOCARDITE POR STREPTOCOCCUS GALLOLYTICUS ASSOCIADA À PROVÁVEL NEOPLASIA COLORRETAL

2022; Elsevier BV; Volume: 44; Linguagem: Português

10.1016/j.htct.2022.09.024

ISSN

2531-1387

Autores

ACP Silva, G Augusto, A.L. Machado, P Vicari, Koen Marques, VLP Figueiredo,

Tópico(s)

Central Venous Catheters and Hemodialysis

Resumo

Apresentar caso clínico de paciente com anemia hemolítica autoimune (AHAI) precedendo endocardite por Streptococcus gallolyticus (antigo Streptococcus bovis), em provável associação à neoplasia colorretal. Trata-se de condição incomum, raramente relatada em literatura médica, destacando-se assim sua relevância científica. Trabalho descritivo retrospectivo de caso clínico realizado através da coleta de dados registrados em sistema operacional do IAMSPE e revisão de literatura. Paciente do sexo feminino, 80 anos, com diagnóstico de AHAI por anticorpos quentes, tratada a princípio com prednisona 1 mg/kg/dia que apresentou recaída após redução da dose. Recebeu após 4 meses do diagnostico Rituximabe 375 mg/m2 por 4 semanas, não obtendo resposta adequada. Atendida no Pronto Socorro do HSPE, com piora de queixas constitucionais e visto em exames anemia macrocítica, com hemoglobina (Hb) de 5,2 g/dL, provas de hemólise positivas, pesquisa de anticorpos extraíveis do núcleo negativa, cinética do ferro, vitamina B12 e ácido fólico normais, sorologias para HBV, HCV, HIV e sífilis negativas e estudo medular sem alterações relevantes. Realizado corticoterapia e Azatioprina por 5 semanas, sem melhora nos níveis de Hb. Durante internação paciente apresentou febre, com identificação de S. Gallolyticus em hemoculturas e vista insuficiência valvar mitral em ecocardiograma transtorácico que não existia em exame prévio. Foi instituído tratamento com antibioticoterapia para endocardite, sem melhora hematimétrica. Feito imunoglobulina humana, 40 mg/kg/dia por 5 dias, no entanto sem sucesso. Devido às condições clínicas da paciente não foi possível prosseguir investigação com colonoscopia em busca de neoplasia colorretal e a paciente evoluiu a óbito. A AHAI é definida como o aumento da destruição das células vermelhas por mecanismos autoimunes, usualmente mediada por autoanticorpos contra antígenos de superfície dos eritrócitos. É relativamente rara e pode ser primária/idiopática ou secundária à infecções, doenças autoimunes, malignidades, principalmente desordens linfoproliferativas, e drogas. Há associação da AHAI com infecções virais, bacterianas e parasitárias, como HCV, HIV, CMV, pneumococo e leishmaniose. Não há, entretanto, em literatura casos descritos de associação entre infecção pelo S. gallolyticus e AHAI. A relação entre sua infecção e o câncer colorretal já é bem estabelecida. A presença de endocardite por S. gallolyticus incrementa a possibilidade de carcinoma colorretal. No presente caso a paciente apresentava AHAI, infecção pelo S. gallolyticus e endocardite. Analisando a refratariedade do caso ao tratamento instituído e sabendo da alta incidência de neoplasia colorretal em associação com endocardite e infecção pelo S. gallolyticus é possível que o caso descrito se tratasse de AHAI secundária à neoplasia colorretal e endocardite por S. gallolyticus. O presente relato de caso reitera a vasta apresentação clínica com diferentes causas de AHAI e a necessidade de se entender a fisiopatologia e os mecanismos envolvidos em cada apresentação, bem como sua associação com quadros infecciosos e neoplásicos. O conhecimento dos mecanismos mediadores dessas condições pode determinar tratamento e abordagens específicas com melhores respostas clínicas.

Referência(s)