Mão branca: a opinião pública e os grupos de extermínio no Brasil (1980-1985)
2022; Brazilian Journal of Development; Volume: 8; Issue: 10 Linguagem: Português
10.34117/bjdv8n10-007
ISSN2525-8761
Autores Tópico(s)Brazilian cultural history and politics
ResumoO objetivo é recompormos a prática utilizada pelo grupo de extermínio Mão Branca na cidade de Campina Grande, Paraíba, e com isso, questionarmos a classificação das suas vítimas, tanto na imprensa quanto na historiografia campinense. Para isso, utilizamos a teoria da história oral dos depoentes, denunciantes e testemunhas do Esquadrão da Morte em São Paulo, relacionada à transformação na cultura jornalística paulistana sobre os grupos de extermínio e a origem do jornalismo investigativo no Estadão. A partir daí, abordamos a proximidade da opinião pública carioca com o grupo de extermínio Mão Branca da Baixada Fluminense, a quem, o nome das vítimas e os locais aonde os corpos seriam encontrados eram informados e publicados em matérias de Capa do Última Hora. Tal método de imposição da ordem militar remanescente da ditadura e da “limpeza social” foi transportado do Rio de Janeiro para Campina Grande em 1979, quando o Grupo de Extermínio Mão Branca se formou, ainda sem a nomenclatura, mas baseado na extorsão e na tortura de marginais da Zona Leste da cidade. Isso, até a expulsão de um dos seus membros, Temporal, que ao retornar à corporação, como policial de oficio, por intermédio do segundo membro, o superintendente da polícia civil da Paraíba, Ciço Tomé, foi lotado como subordinado ao terceiro membro do grupo, o chefe de investigação da Primeira Delegacia Distrital, Zezé Basílio. Formava-se a versão campinense dos Mão Branca, que no ano de 1980, aparecia no jornal Diário da Borborema como o justiceiro, algoz de bandidos perigosos, e como supomos, a partir do paradigma indiciário de Ginzburg, influenciou o tratamento historiográfico campinense. A partir do momento que a identificação das vítimas passou a reconhecê-las como pobres marginalizados e/ou delinquentes, sem conjecturar que na realidade, a maioria das vítimas dos Mão Branca eram detentos do regime fechado ou semiaberto da Casa de Detenção de Campina Grande. A análise interpretativa do processo do único policial condenado pelos crimes do grupo, Zezé Basílio, revelou que: inspirados no grupo de extermínio carioca, os Mão Branca campinense, também telefonavam para o jornal, indicando a localização dos corpos. No entanto, parecido com o que ocorreu com o Esquadrão da Morte paulistano, a atitude da opinião pública campinense se transformou, a partir da denúncia dos parentes das vítimas, da sociedade civil e da igreja católica. Ainda assim, o que nunca foi dito é que as vítimas dos Mão Branca não eram pessoas perigosas, como exposto nos jornais, mas também, não eram apenas pobres marginalizados, como oferecido à historiografia, eram detentos da Casa de Detenção, que retirados de suas celas por Zezé Basílio e Ciço Tomé, com o pretexto de transferi-los de cela ou para a delegacia distrital, os levavam para a morte, registrada nas matérias de capa do Diário da Borborema, além de outras, que despistassem a prática.
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