
A criança e o insólito em contos de Maria Judite de Carvalho, Mia Couto e José J. Veiga
2021; UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ; Volume: 23; Issue: 43 Linguagem: Português
10.3895/rl.v23n43.11895
ISSN2179-5282
AutoresGregório Foganholi Dantas, Maira Angélica Pandolfi,
Tópico(s)Education and Digital Technologies
ResumoO presente artigo pretende estabelecer uma comparação entre três contos. “A floresta sem sua casa”, da portuguesa Maria Judite de Carvalho (1969), “O dia em que explodiu Mabata-Bata”, do moçambicano Mia Couto (2013) e “Onde estão os didangos?”, do brasileiro José J. Veiga (1997). O objetivo é mostrar como o ponto de vista infantil, limitado, de seus protagonistas, provoca o efeito de fantástico em cada conto. Para tanto, serão usados os estudos sobre a literatura fantástica e o realismo maravilhoso de Irlemar Chiampi (1980), Tzvetan Todorov (1992), David Roas (2014) e Rosalba Campra (2016). Cada um dos contos estabelece o efeito do fantástico de modo diferente: o conto de Maria Judite de Carvalho se enquadra no gênero definido por Todorov como “fantástico”; o conto de Mia Couto é um exemplar do realismo mágico; já o conto do Veiga é realista, mas narrado pelo ponto de vista de uma criança imaginativa, que mistura realidade e fantasia. A criança, segundo Júlio Cortázar (2001), estaria mais apta para compreender a dimensão mágica, oculta, do cotidiano, em relação ao olhar automatizado do olhar adulto. Na tradição da literatura fantástica do século XIX, o sobrenatural normalmente irrompe no cotidiano como uma ameaça ao mundo conhecido. No caso dos presentes contos, o sobrenatural e a sua sugestão são parte constitutiva do modo como a criança vê o mundo e desempenha uma função compensadora frente à realidade opressora que se descortina. O processo de amadurecimento desses jovens envolve a tentativa de elaborar as diferentes formas de violência que presenciam, seja no âmbito de uma guerra civil, seja no âmbito doméstico.
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