Artigo Acesso aberto

Asfalto e mortadela

2016; Volume: 14; Issue: 3 Linguagem: Português

10.33233/nb.v14i3.218

ISSN

2526-7779

Autores

Jean Louis Peytavin,

Tópico(s)

Environmental Sustainability and Education

Resumo

Já se conhece o efeito domino do asfaltamento na floresta amazônica, como no caso da BR-319 que liga Manaus ao Rondônia, em andamento há 40 anos e sem conclusão prevista. O efeito perverso, neste caso como em inúmeros outros casos estudados há 50 anos, é que a abertura de estradas desencadeia uma serie incontrolável de fenômenos como migrações de populações, grilagem e principalmente desmatamento, tornando o projeto inicial, baseado em evidências desenvolvimentistas, em enorme buraco financeiro e ambiental.A bioantropóloga americana Barbara Piperata (Universidade do Ohio, Estados Unidos) estudou o "efeito mortadela" que é para a nutrição o que o asfalto é para a floresta.A alimentação da população dos ribeirinhos da Floresta Nacional de Caxiuanã/PA é baseada em pescada e mandioca e, às vezes, animais de caça local. Com o programa Bolsa Famí­lia, esta população teve acesso maior a alimentos comprados, como arroz e feijão, e também biscoitos, mortadela e outros produtos transformados, comprados nas distantes cidades da vizinhança.A antropóloga, que ficou 2 anos na região, constatou o aumento de peso entre as mulheres da comunidade após o Bolsa Famí­lia, apesar da diminuição da ingestão total de carboidratos. Isso se explicaria pela menor necessidade de cultivar a mandioca (a metade dos lares abandonaram esta cultura tradicional), e consequentemente pela diminuição da atividade fí­sica. Observou também uma diminuição das medidas musculares dos braços, confirmando a queda do esforço fí­sico necessário a manutenção da roça.O Bolsa Famí­lia não é o único fator responsável desta situação, porque, no mesmo perí­odo, tive melhoras dos salários, das aposentadorias, acesso a bens de consumo como geladeiras e televisores. Mas a distribuição de recursos sem educação não protege da insegurança alimentar nem da deficiência nutricional, bem como a polí­tica de construção de rodovias, programada para facilitar a comunicação, acaba destruindo a floresta.

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