
EU SOU MAKYESI: AUTOETNOGRAFIA NEGRA E A PERCEPÇÃO DA MINHA ANCESTRALIDADE MUKONGO EM SOLO ANGOLANO
2023; Volume: 5; Issue: 19 Linguagem: Português
10.32359/debin2022.v5.n19.p142-161
ISSN2595-2803
AutoresMille Caroline Rodrigues Fernandes,
Tópico(s)Physical Education and Sports Studies
ResumoEntre os anos de 2018 a 2020 desenvolvi uma pesquisa em 8 (oito) províncias de Angola: Cabinda, Zaire, Uige, Bengo, Luanda, Malanje, Kwanza Norte e Kwanza Sul, as quais compunham os antigos Reinos Kongo, Ndongo e Matamba. O Interesse por estas províncias em específico foi por estarem ligadas ao processo do tráfico de africanos e africanas para o Brasil, precisamente para o Estado da Bahia devido as heranças percebidas através das marcas lexicais da língua Bantu no português, do uso de máscaras nos festejos, dos rituais de cura nas religiões de matriz Kongo-Angola e as formações de Kilombos[1]. Ao atravessar o Atlântico, pisar em solo angolano e retomar discussões históricas, entrevistando Reis, Rainhas, Ngangas, Mweni-xi, N’gola e Sekulos sobre a constituição do território que hoje chamamos Angola e como esta história, memória e ancestralidade constituem-se e inscrevem-se em nossos corpos diaspóricos negros e kilombolas na Bahia, mantendo-se vivos e vibrantes em nosso/a Ntu/Mutué (cabeça), Ntima/Muxima (coração) e Muanda/Nzumbi (espírito), minhas memórias da infância e adolescência foram acionadas, transpassando os portais ancestrais a partir do momento em que as autoridades tradicionais me reconheceram como Makyesi. Desta maneira, tomando emprestado a abordagem autoetnográfica negra, a proposta desta escrita é narrar, inicialmente, em que medida a vivência/experiência com a pluriversalidade de Angola e a percepção de mim como mukongo ativou minhas histórias e memórias pessoais, reconectando-me ao Eu-Makyesi, e em seguida, refletir como pesquisas desenvolvidas por mulheres negras estão fortemente entrelaçadas ao nosso ativismo negro.[1]A opção em utilizar a letra “k” para a grafia da palavra Kilombo e Kilombola é para enfatizar a origem deste termo que é bantu. E na grafia das línguas do grupo bantu não existem palavras que comecem com “qui”.
Referência(s)