Redução da prescrição de antidepressivos nos cuidados de saúde primários: revisão da literatura e projeto de intervenção
2023; Brazilian Journal of Development; Volume: 6; Issue: 1 Linguagem: Português
10.34119/bjhrv6n1-020
ISSN2595-6825
AutoresSalomé Mouta, Ana Filipa Teixeira, Bianca Jesús, Miguel Pires, Isabel Fonseca Vaz, Diana Brigadeiro,
Tópico(s)Healthcare Regulation
ResumoINTRODUÇÃO: A intensificação do consumo de antidepressivos tem sido verificada, com um aumento acima de 100% do número de prescrições ao longo das 3 últimas décadas, gerando preocupações de que estes fármacos possam estar a ser prescritos em excesso. A bibliografia revela que o aumento da prescrição de antidepressivos diz respeito, sobretudo, a Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina para tratamento de depressão e ansiedade, prescritos maioritariamente por médicos de família. Outro fenómeno observado recorrentemente nos estudos é que o aumento supracitado não se deve a um maior número de pessoas que iniciam a medicação, mas parece ser explicado por um aumento na duração do tratamento. OBJETIVOS: Para além das questões previamente mencionadas, este trabalhado visa sensibilizar que: 1) solicitar ativamente aos prescritores para rever os pacientes em tratamento antidepressivo de longo prazo, com o objetivo de reduzir o tratamento quando este não é apropriado, pode permitir que mais indivíduos suspendam a toma de antidepressivos; 2) os médicos de família devem rever o uso de antidepressivos consumidos a longo prazo e sugerir a suspensão lenta e supervisionada em doentes estabilizados, bem como a adoção de tratamentos eficazes alternativos nos utentes que deles possam beneficiar; 3) o fornecimento de informação e educação ao doente promove a adesão a qualquer tratamento. Deste modo, sugere-se a aplicação de programas de intervenção como aquele que será apresentado. MÉTODOS: Revisão não-sistemática da literatura e exposição do desenho de um projeto de intervenção. RESULTADOS: Face à sobreprescrição de medicamentos antidepressivos, foi desenhado um projeto de intervenção, no qual médicos de família serão convidados a participar em ações de formação interativas, lecionadas por médicos psiquiatras, psicólogos e enfermeiros especialistas em saúde mental. Durante estas sessões, os médicos de família serão capacitados de conhecimentos úteis relativamente ao mecanismo de ação dos fármacos antidepressivos, efeitos laterais e prescrição racional dos mesmos, assim como sobre métodos terapêuticos alternativos e/ou adjuvantes à prescrição antidepressiva. Será ainda fornecida informação acerca de formas como abordar e informar o doente, em contexto de consulta, acerca da terapêutica antidepressiva e intervenções alternativas. No final do ciclo de sessões, será solicitado aos médicos de família que, ao longo das suas consultas, identifiquem os doentes que se encontram medicados com pelo menos um fármaco antidepressivo há mais de 2 anos. Nestes casos, os médicos deverão rever a necessidade de renovação da prescrição e ponderar a sua redução ou suspensão, bem como a adoção de alternativas terapêuticas sempre que considerem pertinente. Os doentes em questão deverão ser periodicamente reavaliados pelo seu respetivo médico de família e este deverá proceder à verificação e registo da possível recorrência ou agravamento dos sintomas, existência de efeitos laterais e satisfação do utente. CONCLUSÃO: Concluindo, reforça-se novamente a noção de que a maioria dos doentes pode tentar interromper/diminuir a toma de antidepressivos e optar por tratamentos alternativos com segurança nos Cuidados de Saúde Primários, desde que sejam cuidadosamente informados e monitorizados quanto à eficácia do tratamento e identificação de efeitos adversos por parte de médicos de família sensibilizados e capacitados.
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