
“Nunca S. Sebastião esteve assim”
2023; Editora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (EDIPUCRS); Volume: 16; Issue: 1 Linguagem: Português
10.15448/1983-4276.2023.1.43689
ISSN1983-4276
AutoresAna Cláudia Aymoré Martins, Antônio Edmilson Martins Rodrigues, José Marcos Paula Pessoa Freitas,
Tópico(s)Cultural, Media, and Literary Studies
ResumoO presente artigo tem como objeto a análise das representações da epidemia de varíola que assolou a cidade do Rio de Janeiro em 1908, deixando um saldo de mais de 6.400 mortos, no conto “A peste”, de João do Rio. Exemplo do que Paes (1985) classifica como literatura-esgar de estética art nouveau, o conto publicado originalmente na Gazeta de Notícias e em seguida reunido na coletânea Dentro da noite (1910), tem como narrador principal o esnobe Luciano Torres, o qual relata, a um interlocutor inomeado, o trágico desenrolar da contaminação de seu amado Francisco Nogueira pela varíola. Partindo da premissa de que João do Rio observa o caráter de ruptura epidemiológica (McNEILL, 1998) em seu próprio tempo, a pestilência real transfigura-se em motivo literário significativo, pois, através das representações da peste presentes no conto, o escritor articula a doença e seus processos – difusão, contágio, isolamento, desfiguração, morte – a uma mirada crítica sobre a cidade, para além da perspectiva eufórica da modernização da belle époque; uma visão disfórica (GOMES, 1994), que lê, sob o véu do ideário do progresso, suas mazelas. Nesse sentido, “A peste” revela a condição paralisante de um flâneur diante da cidade vazia (MARTINS, 2021), contaminada pelo “mal das bexigas”: a São Sebastião ferida de morte, regida pelo signo assombroso de Obaluaiê e análoga à experiência catastrófica do campo de batalha.
Referência(s)