Artigo Acesso aberto Produção Nacional

Usos do modelo BIM e o ensino de arquitetura

2022; Volume: 4; Linguagem: Português

10.46421/enebim.v4i00.1925

ISSN

2763-6771

Autores

Mônica Santos Salgado,

Tópico(s)

BIM and Construction Integration

Resumo

A Modelagem da Informação da Construção – Building Information Modeling (BIM), envolve desde o desenho paramétrico até a simulação de desempenho e gestão da operação e manutenção. Sua adoção tem impactado diferentes setores da indústria de AEC (Arquitetura, Engenharia e Construção), exigindo uma revisão nas práticas adotadas na formação profissional. Mas é necessário cuidado na proposição de alterações na grade curricular dos cursos de graduação, para evitar reações em contrário, tal como a apresentada por Scheer (2014) que argumenta sobre a forma como as tecnologias digitais vem sendo inseridas no ensino. Nesse sentido, o presente trabalho apresenta a estratégia que está sendo adotada para estruturação e implementação de Célula BIM (Building Information Modeling) no curso de graduação da FAU UFRJ, como foco disseminador das práticas em projeto e construção a partir das possibilidades oferecidas pelas tecnologias digitais. O processo está em sua fase inicial (diagnóstico e mobilização) e o currículo do curso está em fase de alteração. Por esse motivo, o trabalho considera o novo projeto pedagógico aprovado para o curso da FAU UFRJ (com implantação prevista em 2023) e a proposta se baseia na adoção dos Usos do Modelo BIM definidos pela BIMe Initiative (2021) como estratégia para inserção do BIM no ensino de graduação em arquitetura e urbanismo. Entende-se que a inserção do BIM pode ocorrer de forma harmônica e integrada às grades curriculares, garantindo que os conteúdos específicos necessários à formação do arquiteto e urbanista sejam transmitidos explorando as possibilidades oferecidas pela modelagem da informação da construção. Nesse sentido, observa-se o crescente número de pesquisas que tratam o tema. Delatorre (2014) apresentou a análise da matriz curricular do curso de arquitetura e urbanismo da UNOCHAPECÓ, e ao final apresentou um conjunto de propostas visando à inserção do BIM no currículo daquele curso. Checucci (2014) além do estudo da matriz curricular do curso de engenharia civil, desenvolveu uma ferramenta que pode auxiliar outras instituições no processo de adoção do BIM no ensino. Leal (2018) procurou apresentar algumas estratégias didáticas oferecidas pelas tecnologias digitais, apresentando alternativas para inserção do BIM no ensino de graduação em arquitetura e urbanismo, enquanto Pergher (2021) explorou as competências, apresentando uma matriz onde relacionou os conhecimentos, habilidades e atitudes relacionados aos processos, tecnologias e políticas que caracterizam a metodologia. Outras pesquisas igualmente importantes deram ênfase à adoção do BIM em situações específicas, como no ensino de projeto (GODOY FILHO, 2014; MEDEIROS, 2021; SCHULZ, 2021), ensino de orçamentação (MATTANA, 2017) e ensino de informática (NATUMI, 2013) demonstrando o universo de possibilidades e aspectos a serem considerados ao se pensar a inserção do BIM no ensino. Cabe considerar o alerta de Sacks et al (2021) sobre a dificuldade de se mudar toda uma estrutura de curso para incluir o BIM dada a complexidade do tema, especialmente considerando que os membros do corpo docente precisam aprender BIM antes de incorporá-lo em suas disciplinas e ensiná-lo aos alunos. Dessa forma, entende-se que para viabilizar a inserção do BIM no ensino será preciso considerar ao menos duas alternativas: (i) ensino DO BIM; (ii) ensino COM BIM. Nesse sentido, a adoção dos usos do modelo BIM pode ser uma estratégia importante, viabilizando a associação das práticas didáticas relacionadas ao ensino dos conteúdos específicos do curso às possibilidades oferecidas pelo BIM. Os Usos do Modelo BIM definem as diferentes possibilidades oferecidas pela modelagem da informação da construção. Parte-se da hipótese que a sua adoção como estratégia no ensino pode auxiliar na formação dos profissionais, que passariam a entender o processo de projeto de forma integrada (SALGADO, 2022). Além disso, ao definir corretamente os usos do modelo, pode-se mais facilmente definir objetivos de aprendizagem, uma vez que estes permitem o agrupamento de competências a serem adquiridas por indivíduos, organizações e equipes. (BIMe, 2015) A proposta de adoção dos Usos do Modelo BIM como estratégia para inserção no ensino de graduação em arquitetura foi realizada em três etapas: (1) a análise das diretrizes curriculares definidas pelo MEC (2010) para formação do arquiteto-urbanista relacionando-as com os Usos do Modelo BIM definidos pela BIMe Initiative (2022); (2) estudo de caso com a análise do novo projeto pedagógico do curso de graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ (FAU UFRJ, 2021); e (3) identificação das disciplinas com maior potencial para desenvolvimento de estratégias didáticas para inserção do BIM no ensino dos conteúdos específicos. O currículo do curso de graduação analisado se baseia em três ciclos – básico, intermediário e avançado – e quatro eixos – teoria, projeto, laboratório e profissional. A análise permitiu identificar as disciplinas com maior potencial para inserção do BIM, e os usos que podem ser explorados por diferentes disciplinas. Esse resultado é importante, porque indica oportunidades para os docentes atuarem de forma colaborativa no ensino dos conteúdos específicos. O resultado indicou a aderência entre os usos do modelo e os conteúdos específicos das disciplinas, e alternativas para inserir o BIM de forma evolutiva, ganhando em complexidade conforme o curso avança. O próximo passo será a definição das estratégias didáticas a serem adotadas nas disciplinas do curso. Cabe acrescentar que este trabalho é parte do esforço para inserir o BIM no ensino de graduação na referida Faculdade, e integra o trabalho de criação de Célula BIM na Instituição. A contribuição desta análise está na confirmação do potencial de adoção dos Usos dos Modelos BIM associados ao processo de ensino dos conteúdos específicos que compõem os cursos de graduação em arquitetura e urbanismo no Brasil.

Referência(s)