Artigo Acesso aberto

Gestante com sequela de intubação pós-COVID-19: relato de caso

2022; Linguagem: Português

10.5327/jbg-0368-1416-2022132s1073

ISSN

0368-1416

Autores

Rachel Horowicz Machlach, Carolina Carvalho Mocarzel, Bianca de Avila Lima,

Tópico(s)

COVID-19 Impact on Reproduction

Resumo

Introdução: As gestantes pertencem ao grupo de risco para a evolução grave pelo COVID-19 em função das modificações fisiológicas que ocorrem nesse período. Nessas pacientes, a doença pode progredir rapidamente para pneumonia viral e síndrome respiratória aguda grave (SRAG), com necessidade de intubação orotraqueal (IOT) e ventilação mecânica. A IOT, principalmente quando prolongada, pode cursar com dano nas cordas vocais, granuloma e estenose laringotraqueal, sendo a glote o local mais acometido, seguido pela região subglótica. Relato de caso: S.S.F., G5P4(C2N2)A0, 30 anos, internada com 25 semanas de idade gestacional em unidade fechada por SRAG por COVID-19, com necessidade de IOT por 12 dias. Após melhora clínica, recebeu alta médica, com retorno ao pré-natal para seguimento da gestação. Com 32 semanas, reinternou-se com quadro de dispneia progressiva, estridores em repouso, rouquidão e dessaturação, sendo necessário suporte de oxigênio por cateter nasal, corticoterapia venosa e nebulização para estabilização clínica. Foi aventada ainda a possibilidade de traqueostomia em caso de refratariedade ao tratamento clínico. Observaram-se estenose subglótica de 70%, redução significativa na abertura das cordas vocais e granuloma subglótico em videolaringoscopia como sequela da IOT. Após avaliação pela otorrinolaringologia e fonoaudiologia, foi indicado tratamento conservador com Prednisona 20 mg/dia. A paciente evoluiu com diabetes mellitus gestacional iatrogênico de difícil controle e o feto foi diagnosticado com macrossomia à ultrassonografia. O tratamento clínico foi suficiente para o controle dos sintomas e a paciente recebeu alta, com programação de parto cesariano eletivo com 37 semanas, que ocorreu sem intercorrências. Conclusão: A estenose traqueal acomete de 10 a 22% dos pacientes submetidos à IOT, principalmente quando prolongada. Deles, apenas 1 a 2% são graves, com dispneia refratária ao tratamento com corticoide. Na gestação, essa complicação ganha ainda mais importância, pois seu diagnóstico precoce permite melhor planejamento da via de parto, uma vez que há descrições de modificação na escala de Mallampati ao longo do trabalho de parto, com evolução para via aérea mais difícil. No caso relatado, o feto evoluiu com macrossomia por hiperglicemia materna secundária à corticoterapia associada a dispneia progressiva e piora dos parâmetros ventilatórios maternos. A iteratividade e o quadro clínico da paciente conduziram para a indicação de cesariana com 37 semanas e feto a termo, para a redução dos riscos da IOT de emergência e melhora da função respiratória materna.

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