Síndrome de Guillain-Barré na gestação: importância da abordagem multidisciplinar no diagnóstico precoce e manejo terapêutico
2022; Linguagem: Português
10.5327/jbg-0368-1416-2022132s1103
ISSN0368-1416
AutoresLilian Cristina Caldeira Thomé, Maria Catharina Piersanti Valiante, Maria Isabel Araújo Lima Duque Estrada,
Tópico(s)Peripheral Neuropathies and Disorders
ResumoIntrodução: A síndrome de Guillain-Barré (SGB) é uma polineuropatia desmielinizante com incidência de 1,3 a cada 100 mil pessoas-ano, predominante na população jovem. Tem caráter etiológico autoimune e é geralmente provocada por infecção viral ou bacteriana prévia. O acometimento da SGB em gestantes ou puérperas já é bem descrito na literatura, muitas vezes com desfechos dramáticos e desfavoráveis. Relato de caso: Paciente de 34 anos, GIVPIAII, idade gestacional (IG) de 16 semanas e três dias, foi transferida para hospital geral no dia 3 de março de 2022, por quadro de paresia e parestesia em membros inferiores, ascendente para membros superiores, e diminuição de reflexos profundos, que evoluiu para arreflexia. Quadro iniciado em 21 de fevereiro de 2022, concomitante a incontinência urinária e fecal. Na história pregressa (HP) houve uma avaliação psiquiátrica em 8 de fevereiro do mesmo ano, com hipótese diagnóstica (HD) de psicose orgânica não identificada, e foi prescrita risperidona. HP negativa para quadros gripais prévios ou febre, com duas doses de vacina contra o vírus SARS-CoV-2 à base de mRNA e uma dose de quadrivalente contra gripe. Ultrassonografia obstétrica (USG-O) de 3 de março de 2022: feto único, vivo, cefálico (FUVC), IG=17 s+3 d, com boa vitalidade fetal, peso fetal estimado (PFE)=199 g. A paciente foi avaliada pela neurologia no dia 7 de março de 2022, apresentando discurso desconexo, confuso e delirante. Diante da HD de SGB, foram solicitados: ressonância magnética (RM) de crânio, tórax e lombar, punção lombar, eletroneuromiografia (ENMG), sorologias para venereal disease research laboratory (VDRL), vírus da imunodeficiência humana (HIV), zika e citomegalovírus (CMV). Nas RM não foram encontradas alterações significativas para o caso, todo o painel sorológico teve resultados negativos, exceto para CMV, este com imunoglobina G positiva. O resultado da análise do líquido cefalorraquidiano (LCR) em 8 de março demonstrou dissociação albumino/citológica (A/C). Em decisão conjunta, os serviços de obstetrícia e neurologia optaram pelo tratamento com imunoglobulina humana intravenosa por cinco dias, iniciado em 10 de março. Em 28 do mesmo mês, a paciente apresentou melhora na força muscular, evoluindo de grau III para grau V. Em 30 de março, iniciou fisioterapia e, no dia 4 de abril, manteve-se em ortostase por 5 min. USG-O de 1º de abril de 2022: FUVC, com IG: 20 s+5 d, PFE: 345 g, normodramnia, índice dopplerfluxométrico cérebro-placentário no percentil 32%. Apesar de colaborativa, a paciente mantinha discurso confuso e por vezes delirante. Após nova avaliação psiquiátrica com HD de estado psicótico, foi prescrito Haloperidol. Conclusão: O diagnóstico da SGB baseia-se na clínica com apoio da análise do LCR, que em geral apresenta dissociação A/C, e na ENMG, embora esta não seja essencial para o diagnóstico, sendo solicitada, se disponível, a partir da terceira semana de sintomatologia. Como a gestação em si é considerada um fator precipitante para a SGB, é fundamental uma abordagem multiprofissional, sempre visando à vigilância clínica para evitar complicações materno-fetais. Assim, o tratamento adequado e as medidas de suporte são primordiais para a recuperação da paciente.
Referência(s)