Artigo Acesso aberto

Miocardiopatia, hipertensão pulmonar e arterial em gestante com anemia falciforme: relato de caso

2022; Linguagem: Português

10.5327/jbg-0368-1416-2022132s1085

ISSN

0368-1416

Autores

Lorena Iza Penna Moura, Matheus Herthel Souza Belo, M. Almeida, Renato Augusto Moreira de Sá,

Tópico(s)

Iron Metabolism and Disorders

Resumo

Introdução: A gestação em mulheres portadoras de doença falciforme (DF) associa-se a elevadas taxas de morbimortalidade materna e fetal. A doença sustentada crônica causa, ao longo dos anos, eventos vasoclusivos capazes de causar complicações cardiovasculares progressivas. Hipertensão pulmonar, insuficiência cardíaca, arritmias, doenças renais e morte súbita estão entre essas complicações. A anemia falciforme está associada principalmente a crescimento fetal restrito, mortalidade materna e perinatal. Relato de caso: Gestante de 27 anos, portadora de doença falciforme, Gesta 1, com idade gestacional de 26 semanas e dois dias, comparece à consulta de pré-natal queixando-se de ortopneia e dispneia paroxística noturna leve. Ao exame físico, apresentava-se hipocorada, com edema de membros inferiores (2+/4+) e pressão arterial 155 × 96 mmHg. Eupneica em ar ambiente. Os exames laboratoriais revelaram: anemia microcítica e hipocrômica, hemoblobina 6,2 g/dL e hematócrito 18,3%, enzimas hepáticas elevadas pró-peptídeo natriurético (BNP) 785 pg/mL e proteinúria. Indicou-se internação hospitalar. A paciente evoluiu com manutenção dos níveis pressóricos elevados e hipoxemia, com necessidade de aporte de oxigênio para a manutenção da saturação de O2. Houve melhora parcial do quadro com transfusão de duas unidades de concentrado de hemácias. O alvo do tratamento era manter a hemoglobina acima de 8 mg/dL. O ecocardiograma transtorácico mostrou hipertensão pulmonar e miocardiopatia com fração de ejeção normal. A avaliação do bem-estar fetal foi feita com ultrassonografia e dopplervelocimetria. Prescreveu-se corticoide para a maturação pulmonar fetal. A pressão arterial foi controlada com o uso de metildopa. Com 28 semanas e três dias, verificou-se comprometimento do bem-estar fetal e necessidade de nova transfusão sanguínea para a manutenção da oxigenação materna, tendo sido indicada a interrupção da gestação. O parto cesáreo foi realizado sem intercorrências, com retirada de feto único encaminhado para tratamento em unidade de terapia intensiva neonatal. A paciente evoluiu com estabilização clínica após o parto, mantendo-se estável durante todo o puerpério imediato. Conclusão: Miocardiopatia e aumento de BPN são marcadores de mortalidade em pacientes com anemia falciforme. Doenças hipertensivas e taxas elevadas de pré-eclâmpsia são marcos comuns de gestantes com DF. As complicações conhecidas levam à indução precoce ou à cesariana pré-termo. A piora clínica da paciente, representada por necessidade de hemotransfusões e persistência da hipoxemia em oxigenioterapia, associadas ao comprometimento fetal, levaram à interrupção pré-termo da gestação. Não há estudos consistentes e protocolados sobre o manejo terapêutico de gestantes cardiopatas com anemia falciforme, e, embora a terapia transfusional seja estabelecida, não há evidências robustas de melhora clínica. Os impactos maternos e fetais da doença são intensos, porém terapêuticas sistematizadas que busquem alterar esses desfechos não são, ainda, continuamente exploradas.

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