Artigo Acesso aberto

Úlceras de Lipschütz associadas à infecção por COVID-19: relato de caso

2022; Linguagem: Português

10.5327/jbg-0368-1416-2022132s1122

ISSN

0368-1416

Autores

Cláudia Jacyntho, Paula de Cássia Nunes Assunção Guimarães, Larissa Nunes Assunção, Maria Roberta Meneguetti Seravali Ramos, Rodrigo Rossi Balbinotti,

Tópico(s)

Genital Health and Disease

Resumo

Introdução: A doença de Lipschütz é uma entidade rara, causada por uma vasculite local, e caracteriza-se pelo surgimento súbito de úlceras na vulva ou vagina inferior. O diagnóstico diferencial dá-se com várias infecções sexualmente transmissíveis e o tratamento objetiva suprimir exacerbações, controlar a dor e prevenir infecção secundária. A infecção pelo novo coronavírus tem sido associada a um importante componente vascular. Manifestações cutâneas ligadas à COVID-19 foram descritas em diversos estudos e a incidência reportada atingiu 20,4%, verificando-se heterogeneidade de padrões clínicos. Relato de caso: Mulher de 23 anos, previamente saudável, apresentou exame de reação em cadeia da polimerase (PCR) positivo para COVID-19 dias antes do surgimento súbito de múltiplas úlceras no vestíbulo vulvar, dolorosas. Ao exame físico as lesões se apresentavam bem delimitadas, profundas, algumas coalescentes, com bordas vermelho-violáceas e recobertas por exsudato cinzento. Aos 15 anos, a paciente havia apresentado quadro de úlceras vulvares, que naquela ocasião haviam sido atribuídas à infecção por vírus Epstein-Barr (sorologia de imunoglobina M positiva). Foi realizada coleta de PCR endocervical múltiplo para bactérias, todos negativos. Citologia de colo uterino negativa para neoplasia e com padrão inflamatório. Sorologias de infecções sexualmente transmissíveis negativas e, para herpes 1 e 2, negativa. Hemograma normal. D-dímeros elevados e PCR ultrassensível elevada, com redução gradativa no transcorrer da doença. A paciente recebeu prescrição de Prednisona e ácido acetilsalicílico (AAS) do clínico geral. Evoluiu com regressão lenta das lesões, até seu completo desaparecimento em três semanas. Conclusão: As úlceras de Lipschütz têm causa desconhecida. Acredita-se que antígenos microbianos, por meio de mimetismo molecular, induzam uma resposta imune citotóxica, resultando em vasculite local, ou que a úlcera seja a manifestação clínica de uma reação de hipersensibilidade a uma infecção viral ou bacteriana, com deposição de complexo imune nos vasos dérmicos, ativação do complemento, microtrombose e subsequente necrose tecidual. A infecção pelo novo coronavírus pode relacionar-se a esse mecanismo fisiopatológico tanto pela via da vasculite local quanto pela reação ao processo infeccioso viral. A doença é autolimitada e a cura espontânea da ulceração genital aguda ocorre em duas a seis semanas, geralmente sem deixar cicatrizes. Cuidados locais podem ser prescritos. Recorrências foram relatadas em 30 a 50% dos casos. A história recente de doença do tipo influenza ou mononucleose deve representar critério de alerta para a suspeita, e possivelmente a infecção pela Covid-19. O diagnóstico diferencial com EBV será definido pela sorologia específica e pelo achado de linfocitose. Embora o número de publicações sobre as manifestações cutâneas na COVID-19 seja expressivo, há muitas perguntas sobre essa associação, que poderão ser respondidas com estudos de imuno-histoquímica e histopatológicos, definindo se são causas diretas da infecção viral ou decorrentes de complicações da doença sistêmica.

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