Artigo Acesso aberto Produção Nacional Revisado por pares

JOGOS DE BARBANTE, LINHAS, AMARRAÇÕES E OUTRAS FIGURAS NA COMPOSIÇÃO DE ETNOGRAFIAS ESCRITAS E SENSORIAIS

2023; Associação Sul-Rio-Grandense de Pesquisadores em História da Educação (ASPHE); Volume: 24; Issue: 64 Linguagem: Português

10.22456/1984-1191.132416

ISSN

1984-1191

Autores

Tatiana Lotierzo, Luís Felipe Kojima Hirano,

Tópico(s)

Urban and sociocultural dynamics

Resumo

Proposto por Luis Felipe Kojima Hirano (UFG) e por Tatiana Lotierzo (USP), o dossiê n. 64 da Iluminuras, com previsão de publicação em março de 2023, abordará o tema "Jogos de barbante, linhas, amarrações e outras figuras na composição de etnografias escritas e sensoriais". A antropologia atual vem adotando imagens que implicam uma maneira de pensar relações como fluxos, transformações e devires. Nesse sentido, alguns antropólogos adotam figuras-chave para a composição de seus textos: encontram-se aqui, por exemplo, as “linhas” que Tim Ingold (2007) propõe percorrer, os “jogos de barbante [string figures]” que mobilizam a escrita de Donna Haraway (2016), sendo ambos voltados a possibilidades de “conhecer com” e não mais “sobre” ou “a partir de”. Essas formulações remetem e devem muito, por sua vez, a relações com mundos vastos, muito além dos limites do acadêmico e a preocupações com a perpetuação da vida em um cenário de devastação ambiental sem precedentes. Para Ingold (2007), as linhas são um campo de investigação antropológica, pois a própria vida é vivida ao longo de linhas, deixando pegadas quando caminhamos, inscrições e costuras quando escrevemos e tecemos, mas também ao observarmos, narrarmos e desenhamos. A linha não pode ser confundida com linearidade ou como um conector entre pontos, ela deve ser pensada como um fluxo transformacional que permite produzir novas correspondências. Haraway (2016) retoma o jogo de barbante navajo Ma’ii Ats’áá’ Yílwoí (“Coiotes correndo em direções opostas”), que remonta ao desmanche dos padrões arranjados por Deus Fogo pelo trickster Coiote. Jogos de barbante são feitos e desfeitos com diferentes mundos de SF – science facts, speculative fabulations, speculative feminism, string figures – que envolvem a passagem de padrões desejados ou não pelas mãos de diferentes jogadores e, com isso, uma responsa-habilidade (response-ability) pela continuação do jogo, pela perpetuação dos mundos, de modo a “ficar com os problemas”. Merecem atenção muitos outros exemplos de pensamentos e movimentos que se concebem e se distribuem através de linhas e fluxos em movimento, sugerindo estabilizações provisórias – até que outro jogador receba a trama dos fios –, para logo se transformar em novas perguntas. É o caso dos desenhos – como os desenhos yanomami que compõem uma nova topologia com o papel, adentrando a terra-floresta (Kopenawa e Albert, 2015; Garcia dos Santos, 2014), os grafismos e outras composições –, dos caminhos e territórios sentidos ao caminhar pegadas, dos pontos riscados e dos Adinkra em filosofias africanas e amefricaladinoamericanas (Gonzales, 1998 e Rios, 2019) e das inúmeras amarrações com linhas envolvendo diferentes superfícies – corpos, cestaria, tecidos, papel, cantos e outras –, e esses são apenas alguns engajamentos criativos possíveis, que recordamos em meio à vasta gama de possibilidades de conhecimento através/em “emaranhados intra-ativos” (Barad, 2007). Buscamos pensar em que medida e de que modo imagens/figurações como jogos de barbante, linhas e amarrações, entre outras, mudam o escopo e os efeitos da pesquisa em antropologia. O dossiê receberá artigos e ensaios com imagens e/ou sons desdobrados de etnografias escritas e sensoriais que tenham encontrado, em seus caminhos, perguntas e respostas envolvendo a importância de figurações que busquem envolver o conhecimento ali presentificado em fluxos que não pretendem estancá-lo, mas sim dar-se o risco de mover o barbante sem deixar que ele se desfaça.

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