Artigo Revisado por pares

Por Uma Teologia Negra No Brasil

2017; Wiley; Volume: 67; Issue: 1 Linguagem: Português

10.1353/cro.2017.a782618

ISSN

1939-3881

Autores

Leontino Faria dos Santos,

Tópico(s)

Religion and Society in Latin America

Resumo

Por Uma Teologia Negra No Brasil Leontino Faria dos Santos Tendo em vista a prática contumaz do racismo na sociedade brasileira, pode‐se imaginar a necessidade do desenvolvimento de uma teologia negra que nos chame à reflexão sobre tal fenômeno, à luz de pressupostos bíblico‐teológicos de cunho libertador e profético. Tomamos como referência a teologia negra, que se desenvolveu nos Estados Unidos, como movimento teológico, que surgiu entre os cristãos negros, na segunda metade da década de 60, concentrada na reflexão teológica sobre a luta dos negros norte‐americanos sob a liderança de Martin Luther King. No Brasil, a grande referência para se conhecer melhor sobre esse movimento teológico, são as obras publicadas por Edições Paulinas, de autoria de James H. Cone (O Deus dos Oprimidos, 1985), um dos trabalhos mais importantes sobre a Teologia Negra; e a coletânea de documentos sobre a primeira fase da história da Teologia Negra de 1966 a 1979, de Gayraud S. Wilmore (Teologia Negra, 1986). Lamentavelmente constatamos que a Teologia da Libertação que se desenvolveu no Brasil e na América Latina (apesar de seu enfoque estar mais concentrado numa análise mais social‐econômica marxista do que na libertação de uma raça oprimida) na década de 80 e 90, explorou como se esperava, uma teologia negra de caráter relevante; que fosse impactante e que despertasse a atenção dos cristãos no Brasil. As iniciativas com um viés libertador não foram suficientes para fazer a sociedade pensar sobre os problemas de negros e negras na sociedade brasileira. É louvável considerar o fato de que os líderes da teologia negra norte‐americana procuraram manter um certo diálogo com os líderes da libertação latino‐americana e asiática. Os efeitos desse esforço não foram suficientes para impactar os segmentos religiosos cristãos nem a sociedade brasileira. É oportuno considerar, portanto, que a Teologia Negra se distingue da Teologia da Libertação Latino‐Americana ao evitar o uso da análise social‐econômica marxista e ao concentrar‐se na libertação de uma raça oprimida ao invés de uma classe social‐econômica. Merece menção positiva, contudo, a luta empreendida pela Igreja Católica Apostólica Romana, que sempre foi mais comprometida, no século XX, com os problemas da negritude, do que as Igrejas protestantes. E, entre estas, há aquelas onde a questão negra nunca foi satisfatoriamente abordada, a partir de uma reflexão libertadora e profética. Pressupostos básicos que justificam uma Teologia Negra no Brasil Retrospecto histórico do racismo no Brasil O racismo no Brasil resulta das mesmas causas que o determinaram na América espanhola. Diferente do que ocorria na Antiguidade, na qual a discriminação baseava‐se em diferenças religiosas, de nacionalidade ou de linguagem, essa discriminação, no Brasil, era feita em relação à cultura e ao diferente, incluindo‐se aqui as diferenças marcantes de traços físicos e cor da pele. No começo do século XVI, os colonizadores que chegaram ao Brasil (portugueses), trouxeram em sua bagagem cultural, ideologias do ponto de vista social, político, econômico, teológicos, pseudo‐científicos, explicações consideradas lógicas, para justificar a origem do racismo. Tinham as mesmas características, fundamentos e princípios já usados na Europa, também baseados em equívocos teológicos baseados em textos bíblicos do Antigo Testamento, que se transformaram em doutrina tendenciosa que se desenvolveu entre teólogos fundamentalistas. O equívoco teológico dos europeus sobre a discriminação racial, tornou‐se forte motivo para se defender a escravidão do negro no Brasil. Já em 1520, dizia‐se que os ameríndios não eram descendentes de Adão e Eva. A fundamentação bíblica estava na história de Noé que se embriagou excessivamente com vinho e ficou nu diante dos filhos. Cam, um dos filhos de Noé, por ter visto o seu pai nessa situação e por ter caçoado dele, foi, por...

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