Artigo Revisado por pares

Jurema Afro‐Indígena: O Máximo Divisor Comum da Religião Mínima Brasileira

2017; Wiley; Volume: 67; Issue: 1 Linguagem: Português

10.1353/cro.2017.a782622

ISSN

1939-3881

Autores

Nancy Cardoso e Cláudio Carvalhaes,

Tópico(s)

Religion and Society in Latin America

Resumo

Jurema Afro‐Indígena: O Máximo Divisor Comum da Religião Mínima Brasileira Nancy Cardoso e Cláudio Carvalhaes para Afonso Maria Ligório Soares, que nos ensinou a fazer teologia peregrinando, de tenda em tenda, na provisoriedade, porém animados/as porque nosso próprio corpo peregrino já é templo e morada do Espírito. A pergunta por uma religião mínima brasileira (RMB) foi debatida e respondida por diversos pesquisadores/as ao longo das últimas décadas acompanhando a consolidação do campo de estudos da religião ou de ciências da religião. Um dos exercícios mais significativos foi articulado por André Droogers reunindo diversas contribuições nas décadas de 70 e 80 do século passado na Revista Religião e Sociedade (). Num país como o Brasil que teve que superar no final do século XX uma visão de si mesmo como país cristão católico e assumir a polifonia religiosa para além dos modos de controle da(s) Igreja(s) como consenso na cultura, esta tarefa se mostra importante ainda hoje, uma vez que esta superação ainda não foi concluída e o campo religioso se complexificou neste período. Se para Carlos Brandão existiria “uma grande matriz simbólica de uso comum, sobre a qual cada grupo religioso faz seu próprio recorte e combina seu repertório de crenças”. Pedro Ribeiro de Oliveira pondera que “…deve haver mais de um estoque de elementos religiosos à disposição das diversas religiões” sugerindo que uma possível RMB se alimentaria principalmente do catolicismo popular; Ruben César Fernandes prefere falar de um “substrato comum que ponha de acordo as várias tradições”, dizer de “elementos de conhecimento geral” comuns às diversas religiões com variação no “relacionamento entre as partes” (que seriam Deus soberano, natureza, seres humanos, almas mortas e divindades positivas e negativas). Debatia‐se também em especial o papel do “clero” e sua função — de acordo com Ruben César — de “tradutor” na relação com uma massa religiosa “poliglota” mas incapaz de traduzir ela mesma seus conteúdos; para Droogers a RMB não depende de intermediários (sacerdotes tradutores) nem precisa de reconhecimento por parte das assim chamadas religiões institucionalizadas. A partir do debate Droogers propõe a seguinte concepção de religiosidade mínima brasileira (RMB): Trata‐se de uma religiosidade que se manifesta publicamente em contextos seculares, que é veiculada pelos meios de comunicação de massa,, mas também pela linguagem cotidiana. Ela faz parte da cultura brasileira. Existe no nível nacional e pode, inclusive, servir a fins nacionalistas. Desde então este debate se atualizou de muitas maneiras mantendo a pergunta por uma cultura brasileira ou o que seria próprio de tal cultura –o que também serviria para a questão religiosa. Neste processo de atualização da questão seria possível reconhecer dois caminhos da pesquisa resumidamente: uma pesquisa descritiva pautada pela ciência e os instrumentos da antropologia, sociologia, história, etc. e uma pesquisa pautada pela pertença dos modos de crença em sua relação com sujeitos (mulheres, negros e negras, gays, etc). Enquanto o primeiro caminho aprofundava as intuições dos “patriarcas” dos estudos da religião, o segundo caminho reconhecia a divergência no trato mesmo com o religioso e suas representações de poder (classe, gênero, etnias…). Dois exemplos importantes dessa segunda trajetória de pesquisa merecem ser mencionados aqui: a teologia feminista e a teologia negra no Brasil. Ivone Gebara vai apontar para a situação das mulheres pobres, negras, indígenas, prostitutas, abandonadas pelos maridos, etc., na América Latina, apontando a prioridade da opção da mulher por ela mesma como primeiro passo para consideração do papel e função da religião para as mulheres. Neste sentido não haveria um “mínimo” em si mas deveríamos perguntar no “mínimo” para‐as‐mulheres. Num texto de 1998 Ivone relativiza todos os esforços de uma assim chamada “leitura popular da Biblia” das mulheres identificando um conjunto de realidades...

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