Acidentes por animais ofídicos: repercussões sistêmicas e prognóstico
2023; Brazilian Journal of Development; Volume: 6; Issue: 3 Linguagem: Português
10.34119/bjhrv6n3-321
ISSN2595-6825
AutoresJéssica Azevedo Dias, Raquel Melo Vasconcelos, Mateus Fonseca Dumont, Israel Farias De Souza, Maiara Dias Nascimento, Lucas Sant Anna Barbosa Mappa, Gabriela Reggiani Bitarães, Raquel Penido Oliveira,
Tópico(s)Entomological Studies and Ecology
ResumoIntrodução: Os acidentes por animais peçonhentos são um problema mundial, principalmente em países com regiões tropicais e subtropicais, com alto índice de morbidade e mortalidade. No Brasil, há quatro tipos de acidentes ofídicos de interesse em saúde: botrópico, crotálico, laquético e elapídico. O acidente botrópico, mais comum no país, é causado por serpentes dos gêneros Bothrops e Bothrocophias. O acidente é causado pelas cascavéis, as quais são identificadas pela presença de chocalho. Já o acidente laquêtico é causado pela surucucu, maior serpente peçonhenta do Brasil. São manifestações clínicas frequentes, de caráter precoce e progressivo a dor e o edema, podendo ocorrer também bolhas e sangramentos no local da picada. Em casos mais graves pode acontecer necrose de tecidos com formação de abscessos e desenvolvimento de síndrome compartimental. Também pode ocorrer náuseas, vômitos, sudorese, hipotensão arterial e, mais raramente, choque, insuficiência renal aguda, septicemia e coagulação intravascular disseminada. O tratamento efetivo utilizado para neutralizar os envenenamentos é a administração de soroterapia específica. Já a terapêutica geral inclui hidratação, mantendo-se o fluxo urinário de 1 a 2 mL/kg/hora na criança e 30 a 40 mL/hora no adulto, com o auxílio, se necessário, de manitol e diuréticos de alça por via intravenosa. Deve-se orientar a vacinação contra tétano, devido ao risco de introdução de esporos da bactéria Clostridium tetani no local da ferida. O presente estudo objetivou avaliar as repercussões sistêmicas dos diferentes tipos de veneno, o manejo adequado e o prognóstico. Metodologia: revisão integrativa da literatura, nas bases de dados Pubmed, e Scielo, com os descritores: “Animais Peçonhentos”, “Mordedura de Serpentes” e “Snake Venoms”. Foram utilizados 11 artigos, com data de publicação entre 2014 e 2021. Desenvolvimento: As serpentes do grupo botrópico, como a jararaca e a cascavel, são responsáveis pela maioria dos acidentes ofídicos no país. Seus venenos contêm proteases e fosfolipases A2, que causam danos locais significativos, como inflamação, hemorragia, edema, dor e necrose. Além disso, podem ocorrer sintomas sistêmicos, como sangramentos na pele e mucosas, hipotensão e insuficiência renal aguda. O tratamento é realizado com o soro antibotrópico ou soro botrópico-laquético, que neutraliza os efeitos tóxicos do veneno. Os animais do grupo laquético apresentam venenos semelhantes aos botrópicos e manifestações clínicas parecidas. No entanto, sintomas vagais, como náuseas, vômitos e hipotensão, são mais comuns nos acidentes laquéticos, permitindo a diferenciação clínica. O tratamento também é realizado com o soro antibotrópico-laquético. As serpentes cortálicas, como a cascavel, possuem venenos com alta concentração de proteínas de alto peso molecular, como enzimas e peptídeos. Os sintomas locais, como dor, edema e parestesia, são geralmente discretos. No entanto, o veneno é principalmente neurotóxico, causando paralisia por bloqueio da transmissão neuromuscular. Também podem ocorrer efeitos proteolíticos e hemorrágicos. A insuficiência renal é uma complicação grave. O tratamento envolve o uso do soro anticrotálico. As serpentes elapídicas, como a Naja, possuem venenos primariamente neurotóxicos. Eles interferem na transmissão de impulsos nervosos, levando à paralisia, problemas respiratórios e, em casos graves, asfixia. O veneno elapídico também pode ter efeitos cardiotóxicos, causando arritmias e insuficiência cardíaca. Os sintomas locais geralmente são discretos. O tratamento é realizado com o soro antielapídico. É fundamental ressaltar que a gravidade dos acidentes com serpentes pode variar de acordo com a espécie, quantidade de veneno injetado, local da mordida e estado de saúde do indivíduo. O tratamento precoce com soroterapia específica é essencial para neutralizar os efeitos do veneno. Além disso, medidas de suporte, como hidratação adequada e administração de analgésicos, são importantes para o manejo dos pacientes. Conclusão: Em resumo, os acidentes com serpentes no Brasil são um problema de saúde pública que requer uma abordagem multidisciplinar. O diagnóstico e tratamento precoces, com o uso de soros específicos, são essenciais para reduzir complicações e aumentar as chances de recuperação. Além disso, medidas de suporte e a conscientização da população sobre serpentes peçonhentas são importantes para prevenir acidentes. A educação contínua e a promoção de medidas preventivas são fundamentais para reduzir o impacto desses acidentes na saúde pública.
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