A política de enfrentamento como produtora de dano
2017; Volume: 18; Issue: 1 Linguagem: Português
10.52753/bis.v18i1.34804
ISSN1809-7529
Autores Tópico(s)Homelessness and Social Issues
ResumoO artigo apresenta os resultados de uma pesquisa realizada entre os anos de 2012 a 2014, na cidade de Natal - Rio Grande do Norte, localizada no nordeste do Brasil, região com maior número de usuários/as de crack do país, em que tinha por objetivo investigar como o discurso da epidemia de crack foi capaz de mobilizar a formulação de políticas públicas em saúde a fim de diminuir os danos provocados pelo uso abusivo de crack e de situações de vulnerabilidades associadas. A intenção desta pesquisa veio contribuir com elementos no debate que tem sido evidenciado em que a opção por caracterizar a questão das drogas como saúde, e não segurança pública, tem fundamentado o discurso hegemônico de combate ao crack. A metodologia partiu inicialmente de uma análise sistemática de matérias jornalísticas publicadas no jornal Tribuna do Norte entre os anos de 2010 a 2014, utilizou dados da pesquisa “Perfil dos Usuários de Crack e/ou Similares no Brasil”, assim como a realização de entrevistas semiestruturadas com agentes do plano “Crack é Possível Vencer” e de agente do programa “Consultório de Rua”. Concluiu-se que o discurso da epidemia, longe de qualquer relação com os determinantes epidemiológicos da saúde pública, ela é caracterizada a partir da construção social do pânico moral e da histeria social protagonizado fundamentalmente pela mídia e pelo poder público, e legitimados pelo saber médico dominante. Na implementação do plano “Crack é possível Vencer” concluiu-se que, longe de atender aos usuários/as em situação de vulnerabilidades através dos acessos às redes de saúde e assistência social, ele foi capaz de intensificar o processo de administração da exceção através do aumento repressivo nas cenas de consumo de crack, amplificando os processos de produção de dano à saúde pública.
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