Artigo Acesso aberto

Relato de caso: válvula de uretra posterior com líquido amniótico preservado — uma forma de apresentação subdiagnosticada no 3º trimestre

2023; Linguagem: Português

10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1102

ISSN

0368-1416

Autores

Fernanda Mastrangelo Speich, Ana Elisa Rodrigues Baião, Letícia da Fonseca Gomes, Anna Clara Alvim da Cunha Pereira Rodrigues, Thiago Oliveira Scudiere Campos,

Tópico(s)

Pregnancy and preeclampsia studies

Resumo

Introdução: As malformações do trato urinário fetal representam 20% do total das anomalias estruturais diagnosticáveis durante o pré-natal. Dentre elas, as uropatias obstrutivas são as mais frequentes e a principal causa de falência renal na infância. A obstrução baixa é a mais frequente, ocorrendo em 1 a cada 1.500 nascimentos, e está associada a defeitos cromossômicos em 10% dos casos e defeitos cardíacos e gastrointestinais em 40% dos casos. A causa principal é a válvula de uretra posterior (VUP), que afeta fetos do sexo masculino. Relato de caso: G.S., 42 anos, G5P4A0, descobriu a gestação com 23 semanas e 3 dias. Foi encaminhada ao Serviço de Medicina Fetal do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira, da Fundação Oswaldo Cruz, devido à ultrassonografia (USG) obstétrica que demonstrou feto de sexo masculino com dilatação grave do trato urinário e ossos longos curtos. Nesse serviço, com 30 semanas, a USG demonstrou feto com fêmur e úmero abaixo do percentil 5, rins hiperecogênicos com cistos corticais e dilatação ureteral bilateral, com bexiga de volume normal e polidrâmnio leve. A hipótese diagnóstica foi de VUP e displasia renal obstrutiva. Durante o pré-natal na unidade, foi acompanhada pela medicina fetal, pré-natal e teve consulta em cuidados paliativos perinatais e genética. Com 36 semanas e 6 dias, evoluiu com trabalho de parto espontâneo e parto vaginal. Após o nascimento, foi confirmado o diagnóstico de VUP pelos exames complementares. O recém-nascido teve diagnóstico clínico de síndrome de Down, sendo solicitado cariótipo para confirmação. Comentários: A USG obstétrica de fetos com possível diagnóstico de VUP demonstra a imagem clássica da bexiga e uretra distendidas (formato de raquete), com grau variável de hidronefrose e displasia renal. Este caso teve uma apresentação atípica diagnosticada no 3º trimestre, com dilatação a montante do sistema coletor e displasia renal, com bexiga de tamanho normal e normoamnionia, o que pode ser observado quando ainda na primeira metade da gestação a hipertrofia da musculatura vesical consegue vencer a resistência da VUP, permitindo a micção com altas pressões intravesicais. Pode ser observado espessamento das paredes vesicais na USG, o que auxilia no diagnóstico diferencial com as obstruções médias. É importante considerar este diagnóstico nesta forma de apresentação para aconselhamento adequado e referência para um serviço que disponha de recursos para investigação diagnóstica, intervenção cirúrgica e acompanhamento de recém-nascidos com nefropatia. Ao contrário dos casos que evoluem com oligoâmnio grave, quando há preservação do líquido amniótico, a VUP não evolui com hipoplasia pulmonar grave, e a morbidade e mortalidade na infância estão relacionadas à disfunção renal e miccional e à dilatação do sistema coletor. É importante avaliar malformações associadas e pesquisar anomalias cromossômicas. O risco de recorrência é de 1% se associado a síndromes genéticas.

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