Artigo Acesso aberto Produção Nacional Revisado por pares

olho e a orelha

2023; Editora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (EDIPUCRS); Volume: 68; Issue: 1 Linguagem: Português

10.15448/1984-6746.2023.1.44632

ISSN

1984-6746

Autores

Augusto Jobim do Amaral, José Luís Schifino Ferraro,

Tópico(s)

Political Theology and Sovereignty

Resumo

O trabalho pretende, a partir da publicação das “Confissões da Carne”, analisar o impasse que diz respeito a sua não publicação em vida por Foucault, em especial em função da entrada do sujeito como terceiro componente do triângulo arqueológico-genealógico, impondo uma reviravolta decisiva em sua pesquisa. A força aletúrgica do sujeito implica uma definitiva dessoberanização do dispositivo de poder. Por um lado, se a forma moderna prevê a sua transferência de um poder sobre si próprio aos outros, o complexo de estratégias governamentais, que «orientam» a direção da consciência, não implica a abdicação da liberdade por parte da pessoa a qual foi dirigida; por outro, uma segunda operação surge da diferenciação específica entre o modelo antigo e o modelo cristão, quer dizer, se o antigo modelo de direção funciona com vistas à autonomização do sujeito, aquele exame de consciência cristão estabelece como eixo a dependência e desenvolve uma racionalidade pastoral. Assim Foucault chega a uma estética da existência que é puro exercício de liberdade e perfeita atitude, que se oferece aos outros como prova do seu próprio valor. É com isso que o volume quarto da história da sexualidade é confrontado. O que muda drasticamente na experiência cristã da carne é a relação do sujeito com a verdade. A confissão, mais do que expiação dos pecados, neste quadro intervém como atestado e como testemunho de si próprio. Em conclusão, para Foucault, conotado pela imperfeição que o domina, o sujeito cristão liga-se a uma interminável direção de consciência cujo preço é uma perda de identidade indefinida. Assim, a partir deste recorte, o problema que passa a enfrentar é como encontrar uma forma de fundamentar a hermenêutica de si, não no sacrifício, mas numa “emergência positiva”, teórica e prática, de si, expondo tanto o momento transicional das “Confissões da Carne” quanto a própria razão pela qual renuncia à sua publicação.

Referência(s)