Artigo Acesso aberto Produção Nacional

Por que uma trabalhadora não pode ser atriz: desafios metodológicos para a análise de uma entrevista sobre um momento de “felicidade perfeita”

2023; Associação Brasileira de História Oral (ABHO); Volume: 26; Issue: 1 Linguagem: Português

10.51880/ho.v26i1.1269

ISSN

2358-1654

Autores

Natália Cristina Batista,

Tópico(s)

Arts and Performance Studies

Resumo

Este artigo pretende fazer uma análise da entrevista temática realizada com Marina Euzébio, atriz da montagem O Último Carro, dirigida por João das Neves na cidade de São Paulo, em 1977. Esta peça foi a primeira no Brasil a mesclar atores profissionais com trabalhadores das classes populares em seu elenco, devido ao fato de que o seu roteiro narrava a história de um trem de periferia sem maquinista com passageiros oriundos das classes populares. Foram realizadas mais de 18 entrevistas com atores da montagem, dentre elas Marina Euzébio. Antes de entrar na montagem foi cozinheira informal em um hospital e talvez por isso a experiência tenha sido atípica para ela: horários flexíveis, carteira de trabalho assinada e reconhecimento pelo seu trabalho. Todo este contexto fez com que a sua inserção na montagem tivesse grande impacto em sua vida, o que pode ser percebido através do enaltecimento desse evento em sua narrativa. Permeada por expressões como “eu fui feliz”, “melhor coisa do mundo”, “eu amava”, “me realizei”, a entrevista é atravessada por sentimentos de gratidão por sua participação na montagem, pela sua carreira e por aquele momento do passado. Esta interpretação não remete apenas à narrativa construída, mas pode ser percebida no contato inicial, na escolha para o local da entrevista e na inclusão de toda a família nesse momento. A hipótese principal é que por se tratar de um evento único na vida de Euzébio, a entrevista se apresentou mais potente para a interpretação do indivíduo e não do espetáculo investigado. Eventos considerados marcantes para a trajetória do espetáculo não faziam parte do escopo memorialístico da ex-atriz. Diante desse cenário, pretende-se analisar as dificuldades metodológicas para exercer a arte da escuta e interpretar uma entrevista que trata de um momento de vida específico de um sujeito e parte dele para construir a narrativa sobre o passado, a compreensão do presente e a projeção do futuro.

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