Artigo Revisado por pares

A World Without Hunger: Josué de Castro and the History of Geography by Archie Davies (review)

2023; University of Texas Press; Volume: 22; Issue: 2 Linguagem: Português

10.1353/lag.2023.a909101

ISSN

1548-5811

Autores

Márcia Siqueira de Carvalho,

Tópico(s)

History of Science and Medicine

Resumo

Reviewed by: A World Without Hunger: Josué de Castro and the History of Geography by Archie Davies Márcia Siqueira de Carvalho Archie Davies A World Without Hunger: Josué de Castro and the History of Geography. Liverpool, U.K.: Liverpool University Press, 2023. 280 pp. Illustrations, index. $49.99 hardcover (ISBN 978-18-02-0772-09); electronic (pdf) (eISBN 978-1-80207-901-2). Há 20 anos, o manguezal, ocupado pela população pobre da cidade brasileira de Recife, foi usado para denominar um movimento musical de contracultura, ao misturar vários ritmos musicais e denunciar em suas letras a questão da exclusão social. Chamava-se manguebeat. O líder do movimento, Chico Science, elegeu como símbolos o caranguejo e a antena parabólica na lama, inspirado no romance "Homens e Caranguejos" de Josué de Castro (1967). Foi através do manguebeat que Archie Davies, autor de A World Without Hunger, conheceu a obra de Josué Castro pela primeira vez. No Brasil, a vida e as obras de Josué de Castro se mantêm vivas através de uma das situações de agrura que mais recrudescem ciclicamente, sem nunca ter desaparecido: a fome. Desde a Campanha da Cidadania de 1993, quando se estimava que 32 milhões de brasileiros enfrentavam a fome, as obras de Josué de Castro permeiam o debate no [End Page 260] país conhecido pelos recordes sucessivos de safras de grãos e a incapacidade política de alimentar integralmente a sua população. No Brasil, esse geógrafo e médico é mais conhecido pelo livro "Geografia da Fome" (1946) e pelo romance "Homens e Caranguejos", mencionado acima. O livro "A World Without Hunger" nos apresenta tanto a vida pessoal como a acadêmica de Castro para, em seu entrelace, desvelar a compreensão de sua trajetória, relações, ideias e diálogos como um cidadão do mundo que não esqueceu de suas origens. Os capítulos traçam a trajetória desde o médico/geógrafo preocupado com a fome metabólica da população mocamba até a geografia da fome anticolonial através ótica humanista. Mais ainda, Davies analisa como a geografia, entendida por Castro como a relação entre a humanidade e a natureza, possibilitou a construção de uma geografia da fome e sua contribuição para a geografia política. As fontes dessa pesquisa (arquivos, bibliotecas, museus) transformada em livro localizam--se desde Pernambuco, Brasília e o Rio de Janeiro no Brasil, até Roma, Berlin e Londres, na Europa. A importância da tese de Castro no momento da publicação do livro "Geografia da Fome" em 1946 se destaca por ser contrária à ideia de que a fome era resultado de fatores climáticos e cíclicos que culminavam nas secas destruidoras das safras dos pequenos produtores rurais nordestinos e dos pastos que alimentavam os animais de pequeno porte, principalmente no bioma brasileiro da caatinga. A relação entre a fome, as alterações cíclicas das secas (alternância La Niña e El Niño) e as decisões políticas que resultaram (ou não) na fome foi abordada posteriormente por Mike Davis (2000) na obra "Holocaustos Coloniais" (Late Victorian Holocausts). Nesse sentido, ao conceber a fome como resultado de relações outras, que não somente as da natureza, Castro já articulava a noção defendida por Mike Davis muitas décadas antes do ativista político. Para essa abordagem, Castro se utilizou do que chamou de método geográfico, isto é, sua compreensão do que determinados geógrafos poderiam lhe oferecer para compreender o fenômeno da fome. As bases geográficas que lastrearam a "Geografia da Fome" e sua obra posterior, "Geopolítica da Fome" (Castro, 1959), estão em outros trabalhos menos conhecidos, mas não menos importantes, tais como "Geografia Humana" (1939) e "Ensaios de Geografia Humana" (1957). Essa última coletânea compila dois artigos mais longos, de 1939 e 1940, discursando sobre a natureza da geografia humana e a geografia urbana de Recife. Talvez o embrião do que se tornaria uma obra completa, décadas mais tarde, e que inaugurou...

Referência(s)