
Depoimento: caminhos poéticos da artista indígena Karajá Kássia Borges
2023; Issue: 17 Linguagem: Português
10.11606/issn.2447-9772.i17p263-291
ISSN2447-9772
AutoresKássia Valéria de Oliveira Borges, Virginia H. A. Aita,
Tópico(s)Urban and sociocultural dynamics
ResumoRapsódia 17contemporânea.Reconhecida por sua atuação no grupo, o trabalho anterior da artista Karajá-Iny, Kássia Borges, no entanto, se amplia e redobra (artista-ativistapesquisadora-professora) assumindo nova complexidade em direções diversas.Da investigação dessa herança material/imaterial numa pesquisa sistemática, recupera procedimentos relegados, agora mais do que nunca imprescindíveis a um equilíbrio ameaçado, pondo em risco a vida no planeta.Comprometida com a condição da mulher indígena, sob os sucessivos abusos da exploração predatória, ela põe em relevo seus saberes ancestrais, suas práticas rituais e de manejo do ambiente, expondo a violência infligida a seus corpos, que ainda resistem.Partindo de pequenos potes de argila (Corpotes) achata-os até laminá-los, mimetizando na arte a violência que os esmaga, a seguir, transpõe na superfície a pintura corporal feminina Karajá; replica uma miríade de órgãos/fragmentos dispersos; ou risca círculos sulcando o papel até abrir uma ferida, a ferida dos estupros sofridos pelas mulheres indígenas.Produz, assim, toda uma imageria, paradoxalmente vibrante e bela, que denuncia a usurpação e o trauma vividos, a destruição da "alma" natureza nos corpos das mulheres indígenas.Mas Kássia vai além do sofrimento; revitaliza e ressignifica práticas ancestrais (tradição cerâmica Karajá), reivindicando a potência corpórea, afetiva, de cura, restituição de saberes e laços comunitários numa potente afirmação cosmo-política ("não podemos pensar que somos só nós, a gente é uma turma, um grupo que se une para lutar pelo nosso espaço e nosso território").É notável seu trabalho em cerâmica, que se distancia da abordagem técnica usual, reinterpretando a prática tradicional e comunitária de um mocambo amazônida, recuperando o sentido ritual, a corporeidade imediata e impregnada do barro que nos restitui à natureza, para, assim, discutir a origem.Sua arte emerge de outra cosmologia, invertendo princípios, a ordem entre os seres, entre o visível e o invisível cifrada nessas constelações imagéticas.Expondo o desastre da civilização ocidental que pôs em risco a sobrevivência da espécie, traz a perspectiva de uma nova sociabilidade entre seres viajar, deslocar-se no cosmos.As letras não narram uma história, mas justapõe imagens numa visualização que registra essa experiência de deslocamento."As mirações
Referência(s)