
Sífilis Primária Intraoral Mimetizando Doença Linfoproliferativa
2024; Volume: 22; Issue: Supl.4 Linguagem: Português
10.61217/rcromg.v22.540
ISSN2357-7835
AutoresGabriela Fonseca Rocha, Ana Cláudia Oliveira Telles, Larissa Doalla de Almeida e Silva, Herberth Campos Silva, Cássio Roberto Rocha dos Santos, Evânio Vilela da Silva, Jorge Esquiche León, Ana Terezinha Marques Mesquita,
Tópico(s)Syphilis Diagnosis and Treatment
ResumoIntrodução: Sífilis é uma doença infecciosa bacteriana causada pela espiroqueta filamentosa anaeróbia Treponema pallidum. A transmissão acontece via contato direto ou congênita e apresenta quatro estágios sobrepostos, incluindo primário, secundário, latente e terciário, todos podendo apresentar manifestações orais. Clinicamente e microscopicamente, pode mimetizar várias outras lesões. Apresentam-se como ulcerações focais ou multifocais recobertas por pseudomembranas de borda firme. Descrição do Caso: Paciente do sexo masculino, 22 anos, encaminhado para avaliação de úlcera oral dolorosa, há 1 mês. Durante a anamnese, apresentou exames VDRL, HIV, Hepatite B e C negativos. Ao exame extraoral aspecto de normalidade com ausência de linfadenopatia regional e lesões cutâneas ou mucosas. O exame intraoral revelou grande ulceração recoberta por membrana fibrinopurulenta, endurecida, de bordas irregulares, localizada no terço anterior do dorso da língua, medindo 1,5 x 1,0 cm. O principal diagnóstico diferencial clínico incluiu lesão infecciosa ou neoplásica. Resultados: Foi realizada biópsia incisional e a análise histopatológica revelou amplas áreas de proliferação linfoide com arquitetura folicular focal, permeadas por plasmócitos, sustentado por um estroma de tecido conjuntivo fibrovascular. Na visão de grande aumento, os folículos ocasionais apresentavam estruturas semelhantes a centros germinativos circundados por células linfoides com aparência monocitóide e semelhante a centrócitos, células dispersas semelhantes a centroblastos e numerosos plasmócitos. Na periferia, a infiltração de feixes neurovasculares e fibras musculares esqueléticas por plasmócitos foi mais evidente. Esses achados sugeriram desordem linfoproliferativa, notadamente linfoma MALT e linfoma folicular de baixo grau, seguido por doença relacionada a IgG4 (IgG4-RD). Portanto, foi necessária a análise imunoistoquímica para conclusão diagnóstica. A imunoistoquímica mostrou positividade para CD45RB, CD20 e CD79a, o que destacou a arquitetura folicular. Além disso, a positividade para Bcl-2 e CD10 foram heterogêneas nas células linfoides, enquanto as estruturas semelhantes aos centros germinativos foram Bcl-6 positivas, e Bcl-2, CD10 e CD23 negativas. Escassas células foram CD3 positivas, enquanto a ciclina D1 foi negativa. Populações de plasmócitos foram evidenciados através de MUM1/IRF4, CD79a e CD138. Houve predominância de plasmócitos IgG, com relação IgG4/IgG de 27%. O índice proliferativo Ki-67 foi <5%. Esses achados foram inconsistentes com o diagnóstico de linfoma ou IgG4-RD. Nesse momento, principalmente pela presença de numerosos plasmócitos policlonais, foi solicitado o teste sérico FTA-ABS, revelando-se positivo. Assim, obteve-se o diagnóstico final de sífilis primária e o paciente foi tratado com três injeções semanais de penicilina benzatina G 2,4 milhões de unidades por via intramuscular. Após duas injeções, já foi notada a regressão da lesão, e houve cicatrização completa da úlcera lingual após dois meses de acompanhamento. Conclusões/Considerações Finais: O Serviço de Histopatologia Oral da UFVJM, constatou nos últimos meses que o diagnóstico de sífilis oral não é incomum. Quase todos eles apresentaram características microscópicas típicas. No entanto, um deles sugeriu inicialmente o diagnóstico de linfoma. Raramente são publicados casos de sífilis microscopicamente sugestiva de linfoma. De fato, até o momento, incluindo o presente caso, existem apenas 13 casos bem documentados publicados na literatura.
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