Manifestações orais da sífilis secundária

2024; Volume: 22; Issue: Supl.4 Linguagem: Português

10.61217/rcromg.v22.547

ISSN

2357-7835

Autores

Ana Flávia César Guimarães, Renata Karla Da Silva, Izabella Zapallá, Ana Cláudia Oliveire Teles, Ana Terezinha Marques Mesquita,

Tópico(s)

Syphilis Diagnosis and Treatment

Resumo

Introdução: A sífilis é uma doença infecciosa causada pela bactéria Treponema pallidum, com uma afinidade particular por vários órgãos e tecidos humanos, levando a complexas repercussões clínicas. A principal forma de transmissão ocorre através de relações sexuais desprotegidas, com os órgãos genitais sendo o local primário de infecção. No entanto, é importante notar que áreas extragenitais, como a cavidade oral e a região anal, também podem ser afetadas. Outras vias de transmissão significativas incluem a transmissão intra-útero (transplacentária) durante o parto, resultando na sífilis congênita. A sífilis progride através de três estágios clínicos distintos. O estágio primário é caracterizado por um único cancro que normalmente aparece cerca de 90 dias após a exposição e desaparece espontaneamente dentro de duas a oito semanas. O estágio secundário ocorre entre 2 e 12 semanas após a exposição, apresentando-se com uma erupção cutânea que afeta várias partes do corpo. Essa erupção cutânea também desaparece espontaneamente sem tratamento quando a doença entra no estágio latente, também conhecido como fase tardia. A fase terciária, raramente observada hoje em dia, é caracterizada por gomas e/ou neurossífilis que podem surgir três anos ou mais após a exposição. As manifestações orais da sífilis podem ser observadas no estágio primário, mas são mais comuns no estágio secundário da doença. Elas se apresentam como múltiplas úlceras indolores ou lesões irregulares com bordas esbranquiçadas que afetam a mucosa oral e a orofaringe, especialmente na língua, lábios e mucosa jugal. A aparência dessas lesões pode variar consideravelmente, tornando o diagnóstico mais complexo quando o cirurgião-dentista não possui a devida capacitação para identificar condições estomatológicas. Por esse motivo, as manifestações orais da sífilis podem ser confundidas com outras condições bucais mais comuns, o que pode resultar em diagnóstico tardio ou tratamento inadequado. O objetivo do presente trabalho é relatar um caso clínico de uma paciente com manifestações orais de sífilis secundária. Descrição do caso: Paciente do sexo feminino, 57 anos de idade, procurou a Clínica de Estomatologia da UFVJM com a queixa principal de surgimento de “aftas” há cerca de um mês com ardência, sangramento após escovação e dificuldade de engolir. No exame clínico extra-oral, foi observada linfadenopatia inflamatória bilateral, além de manchas eritematosas em punho e lateral do pé esquerdo. Ao exame clínico intra-oral foram observadas múltiplas placas erosivas com suas superfícies e bordas irregulares em tonsila palatina, borda lateral de língua e mucosa interna de lábio inferior, ambas com aspecto bilateral. As hipóteses diagnósticas foram de eritema multiforme, pênfigo vulgar e sífilis. Solicitou-se a realização de exames complementares, incluindo o hemograma, VDRL, FTA-ABS e TPHA para investigação de sífilis. Após isso, foi realizada uma biópsia incisional em borda lateral de língua e em fundo de vestíbulo anterior inferior. Os fragmentos teciduais foram fixados em formol a 10% e encaminhado para análises microscópicas. Resultados: A análise histopatológica revelou fragmentos da mucosa oral revestidos por epitélio pavimentoso estratificado paraceratinizado, expondo hiperplasia e acantose. A lâmina própria do tecido conjuntivo fibroso permeada por demasiado infiltrado inflamatório crônico mononuclear, rico em linfócitos e plasmócitos. Os vasos mostraram tumefação endotelial e espessamento da camada conjuntiva. Os exames VDRL, FTA-ABS e TPHA foram reagentes para sífilis. A partir da análise dos dados clínicos, microscópicos e sorológicos, o diagnóstico final foi de sífilis secundária. A paciente foi encaminhada para tratamento médico sendo prescrito Penicilina G Benzatina. Após 01 mês de tratamento as lesões orais e cutâneas regrediram completamente. Considerações finais: Os cirurgiões-dentistas podem desempenhar um papel essencial na análise, diagnóstico e controle da sífilis secundária, uma vez que a mucosa oral pode manifestar alterações direta ou indiretas decorrentes de infecção cruzada.

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