Artigo Acesso aberto Produção Nacional

A memória enferma e o racismo como sintoma de uma neurose cultural brasileira: sobre a necessidade de uma terapia mnemônica coletiva com base nos pensamentos de Paul Ricœur e Lélia Gonzalez

2023; Volume: 39; Issue: 2 Linguagem: Português

10.5935/2179-9180.20230009

ISSN

2179-9180

Autores

Carlos Frederiqui Dias Bubols,

Tópico(s)

Psychology and Mental Health

Resumo

Este trabalho pretende, ao longo de três tópicos, sugerir a necessidade de uma terapêutica mnemônica coletiva como um meio para a elaboração de traumas históricos coletivos, promovida por uma historiografia crítica. Para isso, será inicialmente apresentada a noção de memória enferma , desenvolvida por Paul Ricœur em A memória, a história, o esquecimento , com o objetivo de testar a possibilidade de uma transposição de certas categorias psicanalíticas, circunscritas à esfera interpessoal da clínica e mediadas pela transferência , à noção de memória coletiva . Depois, será então apresentado o pensamento da filósofa brasileira Lélia Gonzalez, notadamente no que se refere a seu entendimento do fenômeno do racismo como sintomática do que chamou de neurose cultural brasileira , com atenção especial a sua relação fundamental com o mito da democracia racial , supostamente existente no Brasil de acordo com alguns intelectuais brasileiros do início do século XX. Por fim, com base nos dois tópicos anteriores, será indicada a necessidade de uma espécie de terapia coletiva que, diante da atual organização das instituições brasileiras, passa necessariamente pela educação, e, em especial, pelo ensino escolar de uma historiografia crítica – termo este que aparece em Ricœur e é reforçado pela crítica de Gonzalez a uma certa historiografia brasileira que engendrou e difundiu a ficção da democracia racial , o que novamente substancia a reunião dos pensamentos do filósofo francês e da filósofa brasileira neste trabalho –. Assim, para que essa terapêutica se realize, é preciso que fique bem determinado que tipo de historiografia promove a memória, ou, pelo menos, seguindo um caminho de exclusão, qual historiografia deve ser inteiramente recusada notadamente por promover o esquecimento por meio de um excesso de memória institucional, o que é tornado possível ao se conjugar os pensamentos de Ricœur e Gonzalez a partir de um olhar atento ao papel formador das ideologias .

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