Como a alimentação serviu para segregar, vigiar e acusar os mouriscos na monarquia hispânica do século XVI
2023; UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO; Issue: 34 Linguagem: Português
10.12957/revmar.2023.78035
ISSN2359-0092
Autores Tópico(s)Halal products and consumer behavior
ResumoDurante o século XVI, diversas questões relacionadas ao modo de vida dos mouriscos, nos territórios da Monarquia Hispânica, foram objeto daquilo que poderíamos chamar de “disputas sociais”, tendo em vista a regulação da vida promovida pelo governo e igreja e formas veladas de resistência deste grupo minoritário. A busca pela uniformização social que se seguiu aos batismos forçados afetaria aspectos culturais dos mouriscos de modo variado, inclusive a alimentação. Se a forma de criação, abate e preparo dos animais, bem como as escolhas de especiarias, farinhas, leguminosas, hortaliças e frutas por parte dos mouriscos (conversos) apresentava elementos em comum com as dos cristãos peninsulares, também permaneciam aspectos que funcionavam como marcadores de identidade, ativando mecanismos de vigilância e controle. A maneira de sentar-se à mesa, os jejuns, as proibições, as orações ao comer, os dias santos ou as descrições da fome em tempo de revoltas ou de peregrinações (mudéjares) integram este panorama. Procuramos aqui abordar a alimentação dos mouriscos (e mudéjares) a partir de fontes plurais e heterogêneas, registros tanto do ponto de vista mourisco (e mudéjar) e de cristãos hispânicos (do estado e da igreja), além dos registrados por viajantes estrangeiros. Nos valemos de cédulas, decretos, leis, um Sínodo, proibições, cartas, escritos apologéticos, textos de jurisconsultos sobre o Islã, relatos de jornada de viagem para Meca e de visitantes a Granada, dentre outros. Esta documentação nos permite vislumbrar alguns pontos sobre a comensalidade de um grupo social, sobrevivendo como “minoria” em meio a um mundo católico que os vinculava ao Islã.
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