
O plátano e o canto das cigarras no Fedro de Platão: o ambiente do Diálogo
2023; Universidade de Brasília; Imprensa da Universidade de Coimbra; Issue: 33 Linguagem: Português
10.14195/1984-249x_33_17
ISSN2179-4960
Autores Tópico(s)Linguistics and Language Studies
ResumoEste artigo visa repensar as imagens da “natureza” e do humano em Platão, mais especificamente através de alguns exemplos contidos no diálogo Fedro, raro diálogo “mais afastado” da cidade. Fedro e Sócrates saem de Atenas numa trilha para fora dos muros, passando pelo córrego Ilisso e pela brisa dos bosques, e acabam sentados nas sombras das árvores cheias de cigarras cantantes. Qual o sentido desse cenário na construção do texto? É possível aprender com carvalhos ou insetos? O filosofar desse diálogo passa pelo aconchego das sombras das árvores no quente meio-dia de verão. Essa topografia sensual através do texto revela o escritor Platão cuidadoso com o significado envolvente do drama vivo entre Fedro e Sócrates. Chamo atenção aqui para a participação-audiência dos elementos naturais, das árvores e cigarras no diálogo entre Fedro e Sócrates notando um cuidado do discurso com a atmosfera circundante, preocupação especial de Sócrates em sua palinódia e em sua oração final à Pan. Nesse diálogo, mais do que distintos e afastados da natureza, repensamos o ser humano (e a razão) mergulhado nela – numa tentativa de integração e busca mitológica e dialógica entre rio, rocha, plantas, animais, humanos, deuses e semi-deuses. A imagem de um Platão demasiado racionalista and humanista encontra nesse texto uma outra perspectiva: a de um escritor inspirado, hibrido poeta e filósofo na missão de restaurar a linguagem e a cidade à vida animal e cósmica.
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