O urbanismo e o governo das populações
2023; Revista Políticas Públicas & Cidades; Volume: 12; Issue: 1 Linguagem: Português
10.23900/2359-1552v12n1-6-2023
ISSN2359-1552
Autores Tópico(s)Urban Development and Societal Issues
ResumoAtravés do pensamento de Michel Foucault, o presente trabalho procura indicar o momento na história em que a política moderna de gestão populacional produziu o urbanismo como seu dispositivo. Para Foucault, o que inaugura a modernidade política é o fato de que, a partir do século XVIII, a população torna-se objeto de governo do poder político estatal. Os Estados tiveram que tomar por encargo e objeto fundamental de seu exercício de poder, não mais a unidade do território, mas a complexidade de uma população. Foucault observa que as práticas de governo irão buscar maximizar a vida das populações, aumentar a sua saúde, assim como a sua riqueza e sua capacidade produtiva. Trata-se do desenvolvimento de uma biopolítica, uma política que objetiva gerir a vida das populações para fins produtivos, que irá se organizar dentro dos quadros do liberalismo e que será capaz de reunir os instrumentos indispensáveis para a emergência e desenvolvimento do capitalismo. A partir dessas análises, procuramos estudar como o “problema do espaço” aparece na estratégia política de gestão de massas. As cidades passam a cumprir funções fundamentais, elas irão compor um meio circundante por onde as técnicas de governo poderão fazer circular suas ações, de modo que atinja a conduta das populações. O urbanismo vai se formar como um conjunto de instrumentos de projeto e de organização do espaço físico urbano, capaz de estruturar um meio por onde vai-se buscar gerir populações em face de processos econômicos. Neste sentido, trabalhamos com a hipótese de que o urbanismo só pôde se desenvolver na medida em que o governamento liberal biopolítico o situou como dispositivo de sua própria gestão. Pudemos compreender que, embora o urbanismo tenha no espaço urbano a matéria em que ele faz incidir estrategicamente seus instrumentos, é no corpo da população que o urbanismo encontra seu objeto último.
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