A função catártica da memória na actual literatura angolana: "O caso de Botelho de Vasconcelos"
2016; Linguagem: Português
10.62791/z9je8871
ISSN2573-1432
Autores Tópico(s)Linguistics and Language Studies
ResumoResumo: Tàbua (2004), o sétimo livro do poeta Adriano Botelho de Vasconcelos, é, tal como o fora o livro Os Limites da Luz (2003), de E. Bonavena (aliás, Nelson Pestana), um livro que evoca e provoca: evoca as crises e os afectos destroçados, conseqüência da repressão pós-27 de Maio de 1977; provoca pela temática que passa pela ideia de que é preciso falarse dos dissensos para os sanear, na contramão da “doutrina nacionalista” de uniformização totalizante. As duas posturas enunciativas vêem-se na ritualização do luto, na homenagem aos mortos e na expiação da dor que a poesia de ambos os livros atualiza para que, pela exposição das fracturas e das fissuras individuais e segmentais, a purificação colectiva se processe. Eles próprios vítimas de prisão no período do regime monopartidário, é como se os dois poetas se insurgissem contra o muro de frases feitas do discurso da reconciliação. No entanto, essa postura de confrontação com o passado não pressupõe o seu culto, pelo que a nostalgia que daí resulta não é regressiva, mas projectiva, a direccionar ao futuro. Nada há de mais construtivo do que organizar as ruínas do passado, na contramão do anjo de Paul Klee, reinterpretado por Walter Benjamin. Na verdade, as “ruínas” dos poetas—pessoais e patrias—não se amontoam para se dispersarem a seus pés: os poetas arranja(ra)m-lhes um lugar, para que cada uma funcione no corpo pátrio que se pretende reconstruído, e liberto dos dissensos de um passado demasiado recente para não provocar angústia pela sua nomeação.
Referência(s)