Artigo Acesso aberto Produção Nacional

Reflexões sobre desafios da contemporaneidade e outros horizontes de sentido cosmoperceptivos em contextos relacionais com a água

2024; UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO; Volume: 19; Issue: 6 Linguagem: Português

10.34024/revbea.2024.v19.18932

ISSN

1981-1764

Autores

Franklin de Paula Júnior, Rita Silvana Santana dos Santos,

Tópico(s)

Environmental Sustainability and Education

Resumo

Este trabalho vincula-se com um projeto de pesquisa acerca de enunciados instituintes sobre a água e suas implicações neste universo relacional. No presente ensaio, apresentaremos possíveis aproximações e diálogos com ideias e elementos teórico-conceituais potencialmente capazes de contribuir para a contextualização e o desenvolvimento da pesquisa, enfatizando processos educativos, em especial, de Educação Ambiental. A crise climática global, a crise hídrica e a ameaça de colapso ambiental planetário são algumas das situações centrais que desafiam a contemporaneidade, mas cuja gênese remonta à lógica colonial (à racionalidade indolente subjacente), que constitui uma das forças motrizes da modernidade ocidental capitalista. A metafísica do dinheiro e a globalização neoliberal (RAMOSE, 2010), que são algumas das expressões mais visíveis e atuais da colonialidade, tornaram-se um dos pilares do esgarçamento ecossistêmico planetário e da desigualdade social – chaga histórica que novamente flagela o mundo e impacta exponencialmente o Sul Global. Em sua investigação sobre a herança colonial na Iorubalândia, Oyèrónkẹ́ Oyěwùmí (2002) desvendou categorias socialmente construídas pelo projeto colonial eurocêntrico que se baseiam em uma “bio-lógica” hierarquizante (ideologia do determinismo biológico) – que atribui diferenciações sociais, estabelece hierarquias, bem como funções, privilégios e discriminações baseadas na pigmentação da pele, no fenótipo, na morfologia, no sexo [genitália] e noutros atributos corporais –, a exemplo das categorias de gênero e de raça, historicamente impostas pelo colonialismo a territórios e povos não ocidentais. A partir desta constatação, Oyěwùmí estabelece uma distinção importante entre a cosmovisão ocidental [e ocidentalizadora] e cosmopercepções outras que valorizam o conjunto de sentidos, propiciando uma apreensão global e interconectada da realidade em suas múltiplas dimensões – abarcando nuances da existência e dos vários mundos, físico e metafísico entrelaçados. Espera-se que, contra a lógica mortífera do dinheiro e do encargo colonial, estes outros horizontes de sentido (saberes e ontologias), especialmente de origem afroameríndia, possam fecundar processos educativos de Educação Ambiental relacionados com a água na Bacia do Prata – segunda maior bacia hidrográfica de águas transfronteiriças da América do Sul e território subcontinental referencial da experiência sócio-histórica derivada do projeto de modernidade ocidental que tem a colonialidade como a sua contraface constitutiva –, assim como contribuir para o alargamento dos horizontes de emancipação e libertação dos povos, especialmente daqueles que ainda não se libertaram dos encargos da colonialidade.

Referência(s)