Artigo Acesso aberto Revisado por pares

O sulicídio e o sulicídio da literatura nordestina

2024; Editora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (EDIPUCRS); Volume: 59; Issue: 1 Linguagem: Português

10.15448/1984-7726.2024.1.46243

ISSN

1984-7726

Autores

Mateus de Novaes Maia,

Tópico(s)

Medieval Iberian Studies

Resumo

Este trabalho aproxima o movimento literário contemporâneo do sertãopunk — que explora narrativas ligadas ao cyberpunk ambientadas na região nordestina — ao projeto político-literário da Literatura do Norte, de Franklin Távora — autor pioneiro do regionalismo nordestino. Defende-se que ambos apropriarem-se de formas literárias estrangeiras para representar o Nordeste brasileiro a partir de uma perspectiva emancipatória, fazendo frente às discursividades exotizantes sobre a região, correntes desde o século XIX de Távora. Superando os estigmas impostos sobre a literatura nordestina, historicamente considerada subalterna por parte da crítica literária, tanto em relação às suas formas quanto aos seus temas, Távora e os autores ligados ao sertãopunk foram capazes de subverter os discursos hegemônicos sobre a região. Um dos proponentes do sertãopunk chama essa demanda pela autodeterminação de “sulicídio da literatura nordestina” em referência à faixa homônima de Baco Exu do Blues e Diomedes Chinaski em que ambos questionam a invisibilização de rappers do Nordeste do país em relação a seus pares do eixo sul-sudeste. Na mesma medida em que Távora inverte a lógica que desqualificava a produção literária do Norte brasileiro como “provinciana” ao simultaneamente reivindicar uma proximidade com um substrato nacional que faltaria aos seus críticos no coração do império e estabelecer um diálogo criativo com as tendências estrangeiras que despontavam então, os autores do sertãopunk vão de encontro às noções de que a região Nordeste seria atrasada em relação ao resto do Brasil ao elaborar histórias que não só projetam personagens nordestinas para um futuro altamente tecnológico, mas lhes conferem um protagonismo historicamente negado.

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