Artigo Acesso aberto Produção Nacional

Metafísica da Raça

2024; Faculdade Católica de Fortaleza; Volume: 51; Issue: 3 Linguagem: Português

10.51359/2357-9986.2024.259302

ISSN

2357-9986

Autores

Elzahrã Mohamed Radwan Omar Osman,

Tópico(s)

Indigenous Studies in Latin America

Resumo

A pesquisa que ora se apresenta parte de um incômodo com o modo como a filosofia ocidental procurou pensar os seus outros. Quer dizer, como a metafísica constituiu-se enquanto um discurso relativo ao que Vladimir Safatle denominou de “identitarismo branco”, relegando a ideia de Relação (aqui utilizada na acepção de Édouard Glissant) a uma categoria menor relativamente aos modos como o pensamento da outridade e da alteridade se constituíram no Ocidente. Sendo assim, a metafísica da raça é uma das possibilidades de vermos os modos reificadores que identidades – em seus usos essencialistas – limitaram-nos enquanto os Outros do Mesmo; mais, principalmente, como eventos catastróficos como a colonização da América e a tragédia da “Passagem do Meio” ensejaram o que Aníbal Quijano chama de “colonialidade”, e que aqui resumo enquanto um mundo cuja diferença apresenta-se enquanto o grande irredutível. A isso, Denise Ferreira da Silva, chamará de os três pilares ontoepistemológicos modernos, quais sejam, as categorias do entendimento kantinas, a separabilidade e a determinabilidade, bem como a categoria de seqüencialidade hegeliana, gestadas desde um emergente fazer científico, cujo sujeito universal fora o artífice, e desde onde as categorias da matéria foram definidas como finitas, finais e fixas. Utilizo-me, portanto, de ambos autores, Glissant e Da Silva, para imaginar o que seria uma metafísica opaca em oposição a uma metafísica da transparência, uma que se inicia pelo clamor glissantiano pelo direito à opacidade. Uma demanda que pode parecer bastante tímida frente à extratibilidade capitalista-colonial, que instaurou um devir-negro do mundo (Mbembe, 2018), posicionando-nos a todes (humanes e outro-que-humanes) dentro de uma escala do Ser ao inscrever uma “diferença com separabilidade”, nas palavras de daSilva, mas cuja existência segue extraindo valor da diferença. O direito à opacidade corresponde na obra de Denise Ferreira da Silva ao seu clamor pelo “fim deste mundo”. O fim deste mundo, nada mais é que o fim do arsenal racial gestado pela ontoepisteme moderna e suas variantes em diferença racial, cultural, colonial, mas também da própria “analítica racial” que a informa. E como fazê-lo senão por meio de uma poética? Segundo daSilva um fazer ético que finde com a separabilidade, a determinabilidade e a seqüencialidade é a prerrogativa de uma poética da negritude, uma poética feminista negra (da Silva, 2019).

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