Artigo Acesso aberto Produção Nacional Revisado por pares

Lá estava minha russalka

2024; Editora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (EDIPUCRS); Volume: 59; Issue: 1 Linguagem: Português

10.15448/1984-7726.2024.1.46956

ISSN

1984-7726

Autores

Júlia Zorattini, Ekaterina Vólkova Américo,

Tópico(s)

Cultural, Media, and Literary Studies

Resumo

Este artigo propõe uma análise do capítulo “Taman”, parte do romance O herói do nosso tempo (1840), de Mikhail Liérmontov (2013), com ênfase ao papel exercido pelo mar na narrativa, assim como à construção da alteridade, que toma a forma dos “estranhos” habitantes do vilarejo costeiro. “Taman” retrata a curta passagem do oficial do exército russo, Grigori Petchorin, pela cidade homônima, que demarca a fronteira entre a Rússia e a Ucrânia, cujo território era, à época da escrita da obra, parcialmente controlado pelo Império Russo. Tal caráter fronteiriço se reflete nas personagens que Petchorin encontra lá. Nelas, percebe-se uma forte mistura cultural, que abarca elementos ucranianos, tártaros e cossacos, notáveis por meio de suas vestimentas e linguajar. Essa diferença é fonte de estranhamento e desconfiança para o oficial. Desse modo, também encaramos o capítulo como um exemplo de encontro colonial na literatura russófona do século XIX. A postura crítica, ainda que não raro ambígua, ao Império, assumida por Liérmontov, leva-o a subverter vários dos tropos tipicamente associados à literatura colonial do período e convida a leituras pós-coloniais que auxiliam a elucidar a autopercepção dúplice da Rússia como nação marginalizada pela Europa Ocidental e, ao mesmo tempo, como potência imperial perante a Europa Oriental, o Cáucaso e a Ásia Central. Para os fins deste estudo, teceremos algumas breves observações a respeito do papel dos corpos d’água na cultura russa. Em seguida, abordaremos a relação complexa entre os poetas da Era de Ouro e o projeto imperial russo, assim como as especificidades assumidas pela obra liermontoviana em tal âmbito. Enfim, analisaremos o capítulo “Taman”, considerando a significação histórica da região para a Rússia, além do caráter fronteiriço e multicultural das personagens, tão Outras ao protagonista.

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