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O SAGRADO E O PROFANO NAS RELIGIÕES DE MATRIZES AFRICANAS E OS SEUS DESDOBRAMENTOS MUSICAIS: suas contribuições filosóficas não dualistas ao pensamento ocidental

2024; Volume: 14; Issue: 43 Linguagem: Português

10.18764/2236-4358v14n43.2024.33

ISSN

2236-4358

Autores

Wesley Barbosa,

Tópico(s)

Race, Identity, and Education in Brazil

Resumo

O presente artigo pretende desvelar, da situação-limite da escravidão africana, a música afro-brasileira como inédito viável. E esta musicalidade negra, como oriunda, especificamente, das religiões de matriz africana. Ou seja, há uma conectividade entre a experiência do sagrado, com os seus arpejos sonoros, nos terreiros de candomblé, e sua forte inseparabilidade do profano, com as suas festas de santo, abertas aos não iniciados, e a constituição da música popular, especialmente, do samba. Deste modo, as religiões de matriz africana, candomblé, voduns, calundus, e os seus desdobramentos em festas litúrgicas, promovem uma operação hermenêutica capaz de esvaziar a forma de pensamento dualista, profundamente europeia. E esta é uma grande contribuição do pensamento brasileiro ao pensamento ocidental. Enquanto uma filosofia dividiu o mundo em dois, forjando uma ficção interpretativa, o candomblé, o samba, o choro, os negros brasileiros, mantiveram a unidade do mundo, apesar de sua multiplicidade, deixando-se conectar-se com o real, não só pela via da razão, mas também das paixões, do corpo, do sentimento, do sagrado profano, e do profano sagrado. Ou seja, a história da música brasileira, como história do Brasil, na sua conexão com as religiões de terreiro, desvelam uma realidade múltipla no uno, porque o uno é múltiplo, pois o sagrado e o profano se confundem, assim como festa e ação política cidadã, além do sofrimento de uma dor imensa e a alegria de se fazer graça numa realidade devastada pela miséria moral do jugo do colonizador. A hipótese é a de que a experiência cultural e política da realidade brasileira oferecem à história da filosofia, suportes que superam as prerrogativas dialéticas, dualistas, ressentidas, reativas ou rancorosas, de um estilo de pensamento que opera sob os polos de A e B na intenção de uma síntese teleológica. A experiência brasileira músico religiosa, rompe estas premissas, pois aventa coesões de um para além de bem e mal.

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