Produção Nacional
Platão e o problema do mal, do Timeu à refutação do paradigma socrático do mal inconsentido nas Leis: há modos de agir consentidamente injustos e maus
2024; Volume: 38; Linguagem: Português
10.14393/revedfil.v38a2024-70338
ISSN1982-596X
Autores Tópico(s)Philosophy and Historical Thought
ResumoO problema do bem agir e a reflexão sobre a virtude (areté) e o vício (kakía) são presenças marcantes na filosofia de Platão. No Timeu e nas Leis as questões do mal e da ação má recebem uma atenção especial, seja em meio àquela narrativa cosmológica, seja no debate sobre a injustiça, os crimes e as melhores leis para uma cidade. Propomos apresentar a nossa leitura do tema nesses Diálogos, bem como a nossa hipótese sobre a origem do mal em Platão, ambas decorrentes de nossas pesquisas sobre o texto platônico e sua literatura. Platão situa no interior do próprio homem a fonte potencial do mal moral, resultante de má educação e má disposição da alma, no Timeu. Nas Leis, detalha o modo pelo qual uma ação injusta e má é gestada: a formação de um mau caráter (tirania de elementos internos à alma, pela má educação) e de modos de agir mal (consentidos, deliberados). Defendemos que, em Leis IX, Platão realiza uma reformulação do paradigma socrático do mal inconsentido, admitindo que o homem que age de um modo consentido e mal possui tanto o caráter como o modo de agir injusto e mau (861e-862c4). Palavras-chave: Mal; Injustiça; Ética platônica. Plato and the problem of evil, from the Timaeus to the refutation of the Socratic paradigm of not consented-evil in the Laws: there are ways of consentingly acting unfair and evils. Abstract: The problem of doing the right thing and reflecting on virtue (areté) and vice (kakía) are striking presences in Plato's philosophy. In the Timaeus and Laws, the issues of evil and evil action receive special attention, whether in the midst of that cosmological narrative or the debate about injustice, crimes, and the best laws for a city. We propose to present our reading of the theme in these Dialogues and our hypothesis about the genesis of evil in Plato, both arising from our research on the Platonic text and its literature. Plato locates within man himself the potential source of moral evil, resulting from lousy education and nasty disposition of the soul, in the Timaeus. In the Laws, he details how an unjust and bad action is fathered: the formation of an evil character (tyranny of elements internal to the soul, by bad education) and ways of misbehaving (consented, deliberate). We argue that, in Laws IX, Plato performs a reformulation of the Socratic paradigm of not consented evil, admitting that the man who acts in a consenting and evil way possesses both the character and the way of acting unjust and evil (861e-862c4). Key-words: Evil; Injustice; Platonic ethics. Platon et le problème du mal, du Timée à la réfutation du paradigme socratique du mal pas consenti dans les Lois : il y a des manières d'agir, avec consentement, injustes et mauvaises. Résumé : Le problème du bien agir et la réflexion sur la vertu (areté) et le vice (kakía) sont des présences fortes dans la philosophie de Platon. Dans le Timée et dans les Lois, les problèmes du mal et de la mauvaise action reçoivent une attention particulière, soit dans le récit cosmologique, soit dans le débat sur l'injustice, les crimes et les meilleures lois pour une ville. On propose de présenter notre lecture du thème dans ces Dialogues, ainsi que notre hypothèse sur l'origine du mal chez Platon, les deux venues de nos recherches sur le texte platonicien et sa littérature. Dans le Timée, Platon situe la source potentielle du mal moral, résultant d'une mauvaise éducation et d'une mauvaise disposition de l'âme, dans l'homme lui-même. Dans les Lois, il détaille comment une action injuste ou mauvaise est effectuée : la formation d'un mauvais caractère (tyrannie d'éléments internes à l'âme, due à une mauvaise éducation) et de mauvaises manières d'agir (consenties, délibérées). On soutient que, dans les Lois IX, Platon reformule le paradigme socratique du mal pas consenti, en admettant que l'homme qui agit d’une manière consentie et mauvaise a non seulement le caractère, mais aussi la manière d'agir injuste et mauvaise (861e-862c4). Mots clés : Mal ; Injustice ; Éthique platonicienne. Data de registro: 02/08/2023 Data de aceite: 12/06/2024
Referência(s)