Artigo Acesso aberto Produção Nacional Revisado por pares

Vencendo a morte com humor e riso

2024; UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE; Volume: 16; Issue: 33 Linguagem: Português

10.22409/abriluff.v16i33.62725

ISSN

1984-2090

Autores

Lélia Parreira Duarte,

Tópico(s)

Psychology and Mental Health

Resumo

Observo neste texto que a ironia retórica, em sua intenção de criticar ou reforçar ideologias — com a contraposição de opostos ou por dizer algo sem realmente dizê-lo — evolui posteriormente para o que Jankélévitch chama de ironia humoresque ou de segundo grau, a partir da consciência de que o absoluto se realiza e ao mesmo tempo se destrói, num momento fugidio, em equilíbrio entre a comédia e a tragédia. Ao assumir o estatuto de código evanescente da linguagem e mostrar a impossibilidade de atingir a pretendida “verdade”, essa ironia muitas vezes provoca o riso, o qual se relaciona com o que é mais característico do ser humano. Ou seja: com a tragicidade da vida, inevitavelmente terminada na (im)previsível morte. Liga-se também com a capacidade de distanciamento: o prazer de pensar, o gosto do engano e a possibilidade de subverter provisoriamente, através do jogo, a condenação à morte e a tudo aquilo que ela representa. Com base nessas reflexões e em outras de vários estudiosos do humor e do riso (como Freud, Schopenhauer, Bergson, Hobbes, Baudelaire, Bataille, Lacan, Jacques Alain-Miller e Abrão Slavutzky), analiso textos de ficção dos portugueses Lídia Jorge, Augusto Abelaira, valter hugo mãe e António Lobo Antunes, e dos angolanos João Melo e Manuel Rui. Concluo, com Maurice Blanchot, que o riso se relaciona com o desejo maior do ser humano — o de morrer contente, tendo em vista o descontentamento da vida.

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