Artigo Acesso aberto Revisado por pares

Diagnóstico e tratamento clínico de aspergilose em calopsita (Nymphicus hollandicus)

2023; UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL; Volume: 51; Linguagem: Português

10.22456/1679-9216.127704

ISSN

1679-9216

Autores

Malcon Andrei Martinez‐Pereira, Lucas de Paula Pereira, Paula Gomes,

Tópico(s)

Parasitic Diseases Research and Treatment

Resumo

Background: A aspergilose constitui um desafio na medicina de aves, sendo que das espécies de Aspergilus três são as mais frequentemente observadas (A. flavus, A. fumigatus e A. niger). Psittaciformes apresentam quadros relacionados as três espécies, contudo o A. fumigatus é o mais presente. O desafio no diagnóstico está relacionado às características do fungo (serem saprófitas em aves saudáveis), aos sinais clínicos e lesões comuns a várias doenças respiratórias e à dificuldade ao acesso à métodos diagnósticos específicos. Assim, relate-se o caso da doença em uma calopsita cujo o diagnóstico clínico foi obtido por meio de cultura fúngica de swab clocal, e o tratamento com fármaco fungistático. Caso: Uma calopsita fêmea, dois meses de idade, não vermifugada apresentava diarreia, espirros e dificuldade em adquirir peso, apesar de se alimentar bem (ração extrusada e suplementação com frutas e legumes). Ao exame físico constatou-se escore corporal (ECC) 3 (escala de 1 a 5), temperatura cloacal (TC) de 40 ºC, narinas dilatadas e edema na região do olho esquerdo com hiperemia evidente. Por se tratar de um animal que possuía convívio com outro, inferiu-se tratar de Hipovitaminose A, devido a disputa por alimentos e dominância, ou parasitose. Para esta situação foi prescrito suplementação com vitamina A e vermifugação com ivermectina. 15 dias após, retorna apresentando manutenção da perda de peso, EEC 2, penas eriçadas e áreas de rarefação sugestivas de apteriolise em ambos membros torácicos, dificuldade respiratória e estertores pulmonares e em sacos aéreos craniais, além de ferida na região do pigóstilo e vento ocasionada por tentativa de ataque por cão, agravada por automutilação. Diante da piora do quadro foram coletados um swab cloacal e um de cavidade oral para cultura bacteriológica e fúngica. Como tratamento foi prescrito calmante natural, buscando controlar a automutilação, doxiciclina suspensão oral para combate de provável infecção respiratória e itraconazol suspensão oral, manipulado e a dose calculada por extrapolação alométrica. Na oportunidade fora colocado colar elizabetano com a finalidade de evitar o acesso ao pigóstilo e vento. Com o resultado da cultura fúngica do swab de cloaca sendo positivo para A. fumigatus, foi suspensa a doxiciclina. Passados os primeiros 30 dias de tratamento com itraconazol, retorna apresentando-se alerta, pesando 95g, EEC 3, ausência dos sinais respiratórios e com sinais de muda de penas recente. Foram coletados novos swabs (oral e cloacal) para repetição das culturas bacteriana e fúngica e mantido o tratamento com itraconazol. Os resultados de ambas as culturas, bacteriana e fúngica, foram negativos. Ao término do tratamento com itraconazol, retorna demonstrando ganho de peso, EEC 3, TC de 42 ºC, empenamento uniforme e ausência de qualquer sinal respiratório, sendo liberada pelo clínico. Discussão: Um fator preponderante no tratamento de diversas doenças respiratórias em aves é o diagnóstico, visto que muitas das doenças apresentam os mesmos sinais clínicos. Assim, o uso da cultura fúngica foi essencial para determinar a origem dos sinais. Ainda assim, mesmo com um diagnóstico preciso, muitas vezes o clínico se depara com a dificuldade no tratamento, principalmente nos casos de infecções micóticas. O conhecimento sobre o melhor medicamento, considerando a farmacologia, bem como a disponibilidade das concentrações e dosagens comercializadas, além do longo período de tratamento, podem dificultar ou impossibilitar a resolução do caso. De fato, isso é confirmado pela literatura, onde a maioria dos diagnósticos de aspergilose são post-mortem, decorrentes da demora na procura de atendimento veterinário ou na administração de medicamentos ineficazes. Assim, com este relato, buscou-se apresentar uma ferramenta diagnóstica, por vezes negligenciada, e uma compilação com os principais fármacos e sua eficácia no tratamento da aspergilose em Psitaciformes.

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