O útero da casa:
2024; PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS; Volume: 28; Issue: 64 Linguagem: Português
10.5752/p.2358-3428.2024v28n64p344-372
ISSN2358-3428
Autores Tópico(s)Cultural, Media, and Literary Studies
ResumoA partir da obra O útero da casa, de Conceição Lima, poeta são-tomense, é possível observar o início de um projeto poético de reconstrução individual, coletivo, nacional, que perpassa, como uma obsessão, toda a obra, e cresce em desejo a cada verso. No seio (ou no útero) da casa, pode-se habitar uma sala que metaforiza a luta, a praça, pode-se locomover pela obra, sem obstáculos, no caminho plano e redondo. No entanto, tal casa é, também e ainda, sonhada, alta, sagrada, narrada fio a fio e, como poderia se esperar, inacabada – “Sonho ainda o pilar - / uma rectidão de torre, de altar/(...)/ E reinvento em cada rosto fio/a fio/as linhas inacabadas do projecto” (idem, p. 20, grifos meus). O que Conceição Lima realiza em sua obra parece-me uma trajetória inovadora para o contexto das artes literárias de São Tomé e Príncipe. Ela busca projetar, no versejar, no chão da linguagem, a terra sonhada de São Tomé e Príncipe como buscasse re-encontrar a própria Casa. Ou defrontar-se com a sua própria identidade e afetividade. Essa trajetória pode ser fruto de uma moldura histórica – que impulsionou os intelectuais das ex-colônias ao exílio (ainda que não tenha sido “forçado”, no caso da poeta) – e, de uma perspectiva ontológica – que impõe ao sujeito o ofício de permanecer e, ao mesmo tempo, partir de sua terra originária.
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