A historiografia da arquitectura da época românica em Portugal (1870-2010).
2011; Instituto de Estudos Medievais; Issue: 10 Linguagem: Português
10.4000/medievalista.202
ISSN1646-740X
Autores Tópico(s)European Cultural and National Identity
ResumoNo quadro internacional, foi a partir do seculo XVII que se comecou a valorizar a arquitectura medieval, acentuando-se essa mesma valorizacao durante o seculo XIX. So entao, no primeiro quartel de Oitocentos, comecam a surgir os primeiros estudos que diferenciam as caracteristicas formais, construtivas e iconograficas do estilo românico face estilo ao gotico. O estabelecimento de metodologias, a definicao de cronologias e a caracterizacao estilistica criaram um quadro conceptual e lancaram as bases para o avanco da disciplina no que diz respeito a alteridade do românico relativamente ao gotico.Em Portugal, o estudo sobre românico surge tardiamente quando comparado com a restante realidade europeia. Datando de 1870 a primeira obra consagrada a este estilo artistico, o seu estudo estendeu-se ate aos nossos dias, afirmando-se atraves de sucessivas fases de conhecimento que reflectem abordagens, temas e problematicas bem datadas. No entanto, as conquistas e evolucoes que a historiografia sobre a materia foi fazendo, materializada num vasto numero de trabalhos editados, contribuiram e muito para o conhecimento actual sobre o românico portugues. A imagem que se foi construindo do românico acompanha a evolucao da escrita sobre este momento tao representativo da arquitectura portuguesa, conotado com a formacao de Portugal e com o reinado de D. Afonso Henriques (1143-1185). Esta concepcao influiu sobre o modo como se restaurou a arquitectura da epoca românica sensivelmente ao longo da primeira metade do seculo XX. E isto e tanto mais significativo quanto daqui decorre a imagem actual da arquitectura românica, tal como a conhecemos hoje. Ao longo desta ampla cronologia, destacara-se tres autores pela ruptura conceptual que o seu pensamento e a sua escrita sobre românico definiram. Deve-se a Augusto Filipe Simoes (1835-1884) a publicacao da primeira obra consagrada a arquitectura românica, as Reliquias da architectura romano-byzantina em Portugal e particularmente na cidade de Coimbra, dada ao prelo em 1870. Com Manuel Monteiro (1879-1952) foram lancadas as bases da posterior historiografia sobre a arquitectura da epoca românica em Portugal, definindo tipologias, classificando dialectos, estabelecendo cronologias e identificando influencias. So mais tarde, com Carlos Alberto Ferreira de Almeida (1934-1996) e que se voltou a sentir uma nova ruptura conceptual na escrita sobre românico, tendo este autor, alem de muitos outros aspectos, procurado compreender o românico na sua epoca e na sua profunda relacao antropologica com o territorio onde se insere. A originalidade do românico portugues foi sendo reconhecida pela historiografia da especialidade. A sua intima relacao com o territorio, a importância nuclear que os seus testemunhos arquitectonicos assumiram na organizacao territorial, aos mais diversos niveis, foi sendo assimilada por aqueles que se consagram ao seu estudo. Acresce ainda a percepcao da forte presenca de influencias estrangeiras, apesar das problematicas que se lhe associam, adaptadas que foram num contexto muito especifico, onde as pre-existencias assumem um papel nuclear, acentuam ainda mais o caracter unico da arquitectura portuguesa da epoca românica.
Referência(s)