O género no discurso das ciências sociais

2003; Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa; Volume: 38; Issue: 168 Linguagem: Português

ISSN

2182-2999

Autores

Lígia Amâncio,

Tópico(s)

Qualitative research in health

Resumo

Nascido no intenso debate que o feminismo da segunda vaga gerou, o conceito de genero difundiu-se rapidamente nas ciencias sociais, se considerarmos a cronologia de alguns textos de referencia, como o de Ann Oakley (1972) para a sociologia, o de Rhoda Unger (1979) para a psicologia social e o de Joan Scott (1988a) para a historia. A emergencia deste conceito inscrevia-se num processo de mudanca nas ciencias sociais que nao era alheio ao debate politico envolvente. Ao considerar o sexo um construto a explicar, em vez de factor explicativo, o conceito de genero correspondia, no plano teorico, ao proposito de colocar a questao das diferencas entre os sexos na agenda da investigacao social, retirando-a do dominio da biologia, e orientava a sua analise para as condicoes historicas e sociais de producao das crencas e dos saberes sobre os sexos e de legitimacao das divisoes sociais baseadas no sexo. Mas a emergencia do genero inscrevia-se num processo que tornava, ao mesmo tempo, visivel uma relacao social marcada pela desigualdade que a investigacao, a reflexao teorica e a accao politica tinham ignorado ou ocultado. De contributo para a abertura de novos objectos de estudo, ou melhor, do retomar, em novos moldes, de uma velha questao, o conceito de genero deu lugar, mais recentemente, a uma perspectiva critica sobre a producao dos saberes em diversas disciplinas das ciencias sociais.

Referência(s)